sexta-feira, 5 de abril de 2002

Nesta edição, queremos fazer uma pergunta singela: quantas vezes você foi livre na sua vida?

Pense, lembre-se, raciocine. Hoje em dia, você é livre? Você pode fazer da sua vida o que você quiser? Pode hoje largar tudo, casa, emprego, faculdade, filhos, marido, mulher, sair de casa e andar a esmo? Você pode desistir de tudo que construiu se descobrir que o que você construiu não é o que você quis? Você é amarrado à alguma coisa? Se você quiser fazer uma viagem pelo Brasil todo, conhecendo cada canto, cada cidade, viajando de ônibus ou de carro, você pode? Você pode desistir do emprego porque descobriu depois de alguns meses que ele não é bom para você? Você tem outra boca para alimentar? Você é responsável por alguém? Ou você depende de alguma coisa? O que te impede de fazer tudo o que você tem vontade? A sociedade? A namorada? O trabalho? As contas? A responsabilidade? Lembre-se de quando você era mais novo. Você tinha mesada. Tinha que fazer tudo o que seus pais diziam. Tinha que estudar matemática ou química. Você era obrigado. Ou em outras épocas, quando a escravidão era permitida e incentivada.

Hoje ela é velada. Você tem que respeitar certas ordens para parecer útil para a sociedade. Não pode dizer não, obrigado. Senão irá ser discriminado. Tente apenas dizer que não gosta de dinheiro. Que isso não é importante. Fale isso em voz alta, no meio de uma multidão, no centro da cidade. Suba num caixote e grite a plenos pulmões que você não precisa nem nunca quis dinheiro. Comece apontando para as pessoas que andam, principalmente aquelas de terno e gravata, e diga que elas se venderam. Pare um office-boy na rua e lembre-o que ele é apenas um escravo, que no final do mês tem uma espécie de gorjeta por ele não ter reclamado tanto. Caso chie alguma vez, eles chamam outro office-boy. Há vários nas ruas.

Não pregamos a anarquia. Apenas queremos o fim da escravidão. Seja velada ou não. Nunca ninguém foi livre para fazer nada que não condiz com as regras da tal sociedade. Algumas silenciosas outras ditas a plenos pulmões. Todos estamos amarrados, uns aos outros. Vamos afrouxar os nós. Vamos fazer apenas as coisas que queremos. Vamos desistir da vida sem prazer. Vamos rir das verdades preestabelecidas. Vamos procurar alegrias. Vamos ser livres e independentes.

E se alguém disser que a vida sem ordem é impossível, responda que estávamos fugindo do caos apenas.

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