segunda-feira, 19 de agosto de 2002

Dezessete

Não havia problema nenhum com ela. Meu amigo me dissera um pouco antes que não se importaria com nada. Eu pude ver que ela queria. Desde que eu cheguei, ela não tirava os olhos de mim. Logo veio conversar comigo. Oi, ela disse, Como está, eu disse, Há quanto tempo, ela disse, Eu não tenho nada para fazer aqui, respondi, ela silenciou.

Havia um pequeno problema. Eu a queria, como a quero ainda agora. Mas não há nada de mais. Ela me pediu para prometer não esquece-la hoje. Já sofri demais, ela disse, Você tem apenas 17 anos, eu disse, E você parece que tem 32, ela respondeu na hora, o que me fez pensar, O que ela quer dizer com isso.

Nós conversamos, andamos de mãos dadas e ela falou que iria ao banheiro. Havia muitas pessoas no banheiro. Nos perdemos. Encontrei desconhecidos, amigos e os chatos de sempre que não via há tempos. Há tempos não voltava para cidade.

Quinze minutos depois, ela me encontrou, nós nos encontramos por acaso. Conversamos pouco, não gostava da maneira como ela pronunciava algumas palavras. Ela repetia expressões. Beijei-a. Distanciamos-nos do grupo que havia em torno. Ela estava tonta, havia bebido e fumado demais. Você tem apenas 17 anos, perguntei. Ela sorriu.

Ela tinha olhos extremamente azuis, azuis escuros, dos mais belos que existem. Pintava o cabelo de preto porque não gostava dos louros originais. Me depilei hoje, ela soltou em uma das suas frases soltas. Olhei para ela com o intuito de desvendar a frase, mas sentido não havia, ou até agora não percebi.

Falei que gostaria de mais uma cerveja. Pedi para ela buscar para mim, Você tem olhos mais bonitos que os meus, disse. Coloquei a minha mão gelada de segurar o copo de cerveja nas costas nuas dela. Nenhuma mulher precisa mostrar sempre as mesmas partes do corpo para ser sensual, ela disse, ou algo parecido – repentinamente – antes de nos beijarmos.

Os grandes olhos azuis dela não conseguiam fixar-se em mim. Acho até agora que ela não sabia o que estava fazendo. No dia seguinte me disse que tinha sido a noite mais louca da sua vida.

Tenho 21, disse, Ah, ela disse, Nunca fiquei com uma menina tão mais nova que eu, disse. Ela, me parece, não escutou.

Sugeri ao meu amigo irmos embora. Rachamos um táxi e paramos em um lugar neutro entre nossas casas. Meu amigo estava com uma menina maravilhosa de cabelos vermelhos. Eles já se conheciam. Convidei a todos para irem ao meu apartamento que estava vazio, mas meu amigo e a menina que estava com ele não aceitaram.

Ela me puxou para apresentar-me ao namorado de uma amiga dela ainda na festa. Não sei o porquê. Eu já o conhecia desde antes. Ele disse que nós éramos amigos. Tentei puxar na minha memória, mas não vi nada que denunciasse isso. Eu duvidava até do seu nome. Nos distanciamos, ela tropeçou num buraco e quase caiu no chão, e não voltei a vê-los. Nem a amiga nem o namorado.

Quando chegamos no prédio que cresci, observei toda a vizinhança para saber quem estava em casa ou se algo havia mudado. Percebi que um camarada meu estava em casa com o seu novo carro. Subimos as escadas em silêncio, como quase toda a noite que estava pela metade, e avistamos o porteiro que abriu o pequeno portão para nós ao me reconhecer. Ele me cumprimentou e eu respondi.

Tomamos uma tequila na festa. Meu amigo e sua amiga e eu, antes dela chegar. Pedi, junto com o meu amigo, uma segunda dose. Não fazia muito efeito, não queria ficar doido. Nessa hora, a vi.

Nos agarramos no elevador e aproveitamos o espelho que há. Entrei em casa e ela me pediu para não fazermos nada e eu ignorei. Logo ela esqueceu um pouco a promessa e estávamos no chão da sala tirando algumas roupas. Disse para ela, na festa, que não passava a noite com uma menina há muito, Jura, ela me perguntou. Fomos para o quarto com a cama de casal. Ela não queria tirar a calcinha para provar, para ela mesma talvez, que poderia fazer, ou não fazer, o que queria. Pedi para ela tirar a minha roupa que restava. E só paramos quando estava manhã clara.

Você quer tomar um banho, perguntei, Eu te darei um banho, ela respondeu. Molhei meu rosto e fechei meus olhos. Escutei lá no fundo ela me perguntar, Você ainda acha que eu tenho 17 anos, respondi em voz alta que Não. O que, ela me perguntou e eu abri os olhos e disse, Nada. Ela começou a passar o sabonete pelo meu corpo e eu agarrava todo o dela, circundava pela cintura, uma cintura fina, a mais fina que há, puxava para mais perto com os olhos fechados.

Levei-a em casa a pé. Ela me disse na festa, Não me esqueça, por favor, não quero mais isso. Eu sorri enquanto ela procurava as chaves. Não pense que você vem aqui e apenas me usa, ela havia dito antes. Dei meu telefone para ela, todos os números que ela pode me achar, num misto de culpa e tesão quando ela abriu a porta de casa. Me liga, ela disse, Você tem 17 anos mesmo, perguntei, ela sorriu feliz, eu dei um beijo e voltei para casa para tentar dormir.

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