sábado, 31 de agosto de 2002

Godard "Acossado"

Até que enfim vi um filme do Godard que conseguisse realmente mostrar algum traço de genialidade. Algum não, o filme é todo genial. Chama-se “Acossado”, e, se eu não me engano, é um dos primeiros da carreira do cineasta franco-suíço.

Ele é um Godard atípico. Quase um anti-Godard, pela sua extrema capacidade de fazer todo o sentido. O filme é todo certinho, sem sombra para erros (mesmo que sejam intencionais) ou qualquer falta que desvirtue a narrativa do filme. Mas não, não é nenhum filme que podemos chamar de convencional. Ele tem planos-seqüências de quase tirar o fôlego. Faz uma montagem completamente cortada em certos diálogos que produz um efeito sensacional e perfeito para o que ele queria.

E no roteiro, percebemos já alguns traços da personalidade do cultuado diretor. Há sempre uma referência aos EUA, dessa vez nem sempre desfavorável. O protagonista masculino é sempre uma personagem menor que a feminina. E há a homenagem ao marginal, à marginalidade, ao subterrâneo, ao fora dos padrões.

Os outros (poucos) filmes que vi do Homem sempre tendiam para uma experimentação exagerada nas imagens, que beirava o tosco. E é explícito que essa experimentação-tosca só aumentou durante a carreira dele. Os filmes mais do início da carreira – década de 60 – são bem mais palatáveis dos que os de 80. Há um de 89, seu eu não me engano, onde os atores no meio da cena paravam de atuar e faziam poses para a câmera, como estátuas, mesmo que isso não quisesse dizer nada o espectador. Ou dizia e eu que não pesquei a profundidade da referência.

No início de carreira, ele tem uma forma de filmar que, de certa forma, é parecida com de todos da Nouvelle Vague. Depois, parece-me, tenta criar a sua própria escola, fugindo dos padrões que eles mesmos estabeleceram. Para isso, tenta destruir as mesmas regras que obedeciam, com um cinema mais “prático”, sem tanto cuidado, ou detalhismo. O importante é a história, a mensagem passada. Se a luz estourou, ou se a cena não é de uma qualidade ímpar, paciência, tudo é pela experimentação.

Para um cara acostumado com o perfeccionismo atual da indústria cinematográfica, não só americana como mundial, como eu, fica complicado tentar entender essa falta de cuidado que existe com algumas pequeninas coisas nos filmes do Godard.

Mas é inviável tirar os méritos dos filmes dele, por que eles existem. Mesmo escondidos, mesmo singelos, mesmo pequeninos, sempre há algo que você vai parar para pensar e chegará a uma conclusão de que Godard deve entrar para o “Hall of Fame” dos diretores de todos os tempos.

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