quinta-feira, 5 de setembro de 2002

CDD

Para falar de “Cidade de Deus” deve-se pensar o filme como filme. “Enquanto” película, “a nível de” exibição cinematográfica.

Há na mídia, todas as avaliações possíveis sobre CDD. Desde aqueles que dizem ser a obra-prima dessa nova geração de cineastas até aqueles que afirmaram ser o exemplo mais representativo do que pode ser produzido com técnica sem os fundamentos mínimos necessários. Para estes seria uma produção capenga, defeituosa, que sente falta de algo.

Porém, nos dois casos a conclusão é a mesma e está implícita: CDD é o mais longe que o cinema brasileiro já foi. No “hoje em dia”, é a menor distância que já houve entre as produções caseiras e as de fora do país. É de um apuro e qualidade técnica que impressionam até o maior dos gringos que está acostumado com trucagens e brincadeiras de edição.

E o filme, em si, é muito bom. Pode-se ressaltar, aqui e ali, alguns errinhos, ou excessos que são mais convenientes, mas o filme é completamente certinho. Nada está fora do lugar. Tudo foi feito para não dar errado e com muito capricho.

Os “excessos” são encontrados principalmente no roteiro. Talvez por ser uma obra destinada ao grande público, o texto do filme teve de ser bastante didático. O uso do narrador que em algumas horas diz “esse é fulano, mas ele será importante daqui a pouco, não vamos falar dele agora” parece tentar mastigar todo o filme para que ninguém, ao sair da sala de projeção, diga que não entendeu.

Porém, ainda com a mesma figura de linguagem, se eles ajudam a mastigar, a ajuda na digestão pára ai. O filme fica parado, ou na garganta ou no estômago, e você sai remoendo, na tentativa de não ter uma indigestão.

Porque, como diz o narrador desnecessário, no início do filme, CDD não fica próximo de nenhum cartão-postal do Rio. Mas, ainda assim, vivemos sob o mesmo “teto”.

CDD não tenta, e não quer, e não precisa explicar o motivo que levou todos àquela situação. Não é um estudo profundo sobre populações de favelas. É apenas uma crônica de uma aldeia – eu li essa denominação de um crítico e achei muito peculiar – no meio de um centro urbano. Como se fosse o primeiro vistante numa tribo distante e que faz uma gravação feita com os nativos. E a gravação é muito bem feita.

O filme não é panfletário, como já ouvi dizerem. Ele não quer mostrar algo e mudar o mundo. Ele quer mostrar algo, e só. Usa um livro (mas poderia ter sido feito a base de depoimentos, ou direto da imaginação de alguém, ou de milhões de outras maneiras ainda) que foi escrito por um ex-morador do lugar como base e transpassa (não li o texto original, mas pelo que ouvi dizer...) da maneira mais prática que acharam para a tela. Apesar do livro ser uma coisa e o filme outra diferente, os dois têm a mesma finalidade.

E, ao analisar o filme como filme, percebemos a grandeza da obra. Enxergamos que marcamos presença nessa nova onda de filmes. CDD é o nosso representante da onda MTV que aportou nas películas. E um representante de peso.

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