sexta-feira, 11 de outubro de 2002

É incrível a capacidade da nona sinfonia de Beethoven de te convencer logo nos primeiros acordes. É aquela do “tam, tam, tam, taaaaam”. Todo mundo conhece e todo mundo se convence de que essa música é sensacional logo ali, na introdução.

Basicamente qualquer obra (dita) de arte que envolve grandes públicos na forma de platéias, como música e cinema, deve tentar, ao menos, conquistar os espectadores o mais rápido possível. Ela corre um grande risco, caso não consiga envolver o povo que assiste, de perde-los durante a exibição da obra.

Na música contemporânea – do jazz para cá – podemos perceber que essa preocupação definhou um pouco. Porém a encontramos ainda forte em shows ao vivo. A primeira música tocada sempre é um hit. E somente bandas, djs e músicos corajosos tentam enveredar por áreas desconhecidas durante apresentações para grandes platéias.

Já no cinema, há filmes que te ganham nos créditos. “Seven” é um deles. Outros na primeira seqüência, como, não riam, “Os caçadores da Arca Perdida”. Alguém deve se lembrar. Harrison Indiana Ford Jones está dentro de algo que aparenta uma caverna. Ele deve resgatar um diamante enorme e para isso o substitui, numa espécie de balança, por um saco com um punhado de areia. Porém, o saco não é do mesmo peso, ou sei lá por que motivo, um pedregulho enorme rola por sobre o altar que ele está parado e se encaminha na direção de Indiana. Adrenalina injetada no sangue diretamente. Há ainda as famosas primeiras cenas, “Janela Indiscreta”, “Lavoura Arcaica”, e uma que o LFV sempre cita, “Os sete Samurais”, do Kurosawa.

Normalmente o filme te conquista no início, pelo ambiente e pela vivência que ele te transporta. Você começa a acreditar naquilo como se fosse a coisa mais real do mundo. Mesmo que seja “Muholland Drive”. Aliás, acredito que o maior valor desse filme seja exatamente esse, fazer um filme inexplicável, mas que ninguém consegue desgrudar.

Porém e quando o filme não fala para você? Quando, ao passar de muitos minutos, você começa a perceber que aquilo não pode ser verdade? Que alguma coisa está fora do lugar e, mesmo que estivesse correto, aquilo não pode existir?

No festival do Rio se vê de tudo, e um desses filmes que você espera entender o sentido foi “Meu Namorado Pumpkin”, que, graças, eu não lembro o nome do diretor. Apenas sei que é da mesma produtora do Todd Solontz (Felicidade, Histórias Proibidas) e que atriz principal é a Cristina Ricci.

E começa daí a sucessão de fatos inacreditáveis. A Cristina Ricci, ídolo do universo alternativo, faz uma loura desmiolada e patricinha que vive numa “irmandade” (ah, os estados unidos) na disputa pelo troféu da melhor casa do ano. Para ganhar, a chefe da comunidade sugere que elas façam trabalhos voluntários com garotos com problemas mentais (?). A Cristina Ricci toma conta de um chamado Pumpkin e você pode imaginar o que acontece.

É visível que o diretor, na trilha dos passos do Solontz, quis fazer um filme de humor nigérrimo. Só que muitas vezes não dá para se entender qual é a real intenção do filme. É uma sacanagem com os valores de vida de meninas fúteis e riquinhas e que só pensam em comprar e ter o namorado mais lindo. Isso é óbvio, mas as piadas são tão fraquinhas que sinto falta do clima tenso que paira em todo o “Felicidade”.

Pumpkin, só como um exemplo, começa o filme numa cadeira de rodas, completamente imóvel e dependente da mãe e termina numa corrida de revezamento, numa melhora espetacular por amor à Cristina Ricci.

Até agora não decidi se o filme é bom ou ruim. Acho que ele não entra nesses padrões simples de análise. Ele corre por fora. Serve como uma experiência única. Mostra atitudes que deveriam incomodar e, no máximo, fazem rir, quando não passam despercebidas. Mas acho que só por isso vale a pena ver. No vídeo, é claro.

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