quarta-feira, 15 de janeiro de 2003

o texto a seguir faz parte de uma "coleção" proposta por amigos sobre personagens cariocas... fiz na corrida.

As ruas da Lapa sempre federam. Desde que comecei a freqüentar isso aqui. Desde os tempos da Madame Satã. Um dia consegui fotografa-lo com todos os adereços, mas ele quebrou a minha câmera logo em seguida. Minha única câmera.

Moro num sobrado aqui perto. Fede a mofo. É apenas um quarto, com cama sem lençol e um armário que penduro o meu paletó. O banheiro é no corredor e não me lembro do último dia que o lavaram. Durmo com medo que entrem no meu quarto, como já fizeram inúmeras vezes.

Antigamente as pessoas gostavam de ser fotografadas. Hoje, já vi garotos, moleques de pouco mais de 20 anos, me hostilizando. Não tenho idéia do motivo. Ando na rua, sempre tentando não incomodar ninguém. Sobrevivo apenas das minhas fotos e só as tiro se as pessoas quiserem. Vou para lugares onde tem pessoas. Mas, mesmo assim, tiro poucas fotos por noite.

Eu não existo durante o dia. Não saio de casa, não faço nada. Não queria existir, pelo menos. E cada vez mais, a noite, a única coisa que me resta, fica mais triste, mais sozinha, mais vazia. Tudo por causa de algumas pessoas que só querem estragar a vida dos outros. Vejo brigas e mortes desses moleques sem nenhuma razão aparente, todos os dias. Espero o dia em que um deles vai me encontrar e vai resolver meu problema de uma vez por todas. E não precisarei encontrar ninguém.

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