domingo, 25 de janeiro de 2004

How To Remember.

Cliche: a memoria eh involuntaria. Exemplificacao: Nao temos nenhum controle sobre o que vamos lembrar; otherwise nunca esqueceriamos as formulas nas provas de vestibular, ou o nome daquela menina que estah conversando animadamante contigo.

Nao quero nem sugerir o que eu me recordo, sem querer, quando sinto o cheiro de jornal "novo", daqueles que ainda soltam tinta, como era o JB na decada de 80. No minimo, seria disgusting.

Um desses arquivos independentes me assaltou dias desses, quando limpava a neve da drive way da minha irma. Foi tao impulsiva quanto uma miragem, quanto um carro de som desgovernado.

Apesar de ser independente, como defendo, as lembrancas sempre tem um motivo de ser. Como se funcionassem atraves de hiperlinks, com um detalhe puxando ao outro. Eu sei exatamente o motivo da minha recordacao com jornal. Anos e anos sentindo o mesmo cheiro, no mesmo lugar, depois do mesmo ato Hoje, todos esses detalhes se tornaram engracados, mas na epoca eram constrangedores.

Enfim, o que eu quero dizer eh que estava tirando a neve e tentando achar saidas para o que eu estava - estou - passando. De acordo com as especificacoes de um velho ditado brasileiro, estou num "mato sem cachorro".

Voltando, e como todo pensamento, ele nao se importa muito com onde vai. Ele nao estaciona quando vc quer que ele pare (eu me lembro quando eu era crianca que depois de ver um filme de terror eu repetia para mim mesmo "nao vou lembrar do rosto do freddy krueger" e era soh fechar os olhos para aquela cara enrugada aparecer na minha frente), e algumas vezes cai no extremo que eh pensar que a unica saida seria a morte.

Para defender o suicidio devemos apenas ler aquele ensaio do Camus, que agora a memoria me fugiu o nome e a preguica me impede de procurar na internet. Mas eu nao o estou defendendo, pelo contrario.

Apenas raciocinei - eu vou chegar onde eu quero, eu juro - que para acabar com todo o sofrimento, a morte era mais aconselhada. Porque depois, nada mais acontecia.

E logo em seguida a memoria me transportou para uma conversa que tive com a minha outra irma, a que mora no Brasil, sobre morte e coisas assim.

Foi logo depois da morte da minha mae e ela estava ligeiramente nervosa no seu cotidiano. Comecamos a conversar por algum motivo que nao era nada importante - ao ponto de ter sido completamente apagado da minha memoria - e chegamos na morte da minha mae.

Repeti o lugar-comum confortador que agora ela estava, no minimo, num lugar melhor. Minha irma, numa das respostas que mais me surpreenderam nos ultimos anos, disse: "Quem garante?".

Tirando o fato de que eu nunca suspeitei desses pensamentos metafisicos de minha irma (ela sempre pareceu tao "normal"), eu nunca esperei estar numa posicao de credulo contra um agnostico.

Porque, para pensar que "no minimo ela esta melhor", eu tenho que acreditar nisso, sem que, para isso, nao tenha nenhuma prova do mundo esse que nos circunda. E ela estava duvidando disso. Exatamente o oposto daquilo que se acostumou chamar de senso comum.

Ah, o sabor da primeira duvida, da primeira agonia ante a possibilidade de nao saber nada, de apenas acreditar no vazio e fazer dele o seu mundo... Isso eh inigualavel. Nao ha nada que se possa comparar.

E vi que minha irma, uma dentista, militar, mae de familia, 30 anos, correta, pode tambem ter pretensoes fora da realidade cotidiana. Para usar uma metafora literaria, direi que ela pode pensar alem do realismo. Acabou, com uma pequena frase, com anos de preconceitos meus.

Alias, algumas pequenas frases acabaram com grande parte dos meus preconceitos, posso me lembrar de algumas. Seriam quase "slogans". Mas isso eh historia para outro dia.

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