sábado, 24 de janeiro de 2004

to pretend:

Lembro claramente de um dialogo que tive assim que mandei um email de despedida numa das (duas) multinacionais que eu trabalhei. Uma outra estagiaria, daquelas gordinhas e carentes que ao dar um pouco de atencao ela se sente muitissimo bem, e que era muito mais antiga no lugar, veio me perguntar se era realmente eu que estava saindo, porque ela acreditava que eu era um dos poucos com potencial para ser efetivado ali.

Quase nao me segurei, mas soh ri quando estava longe dela.

Para exemplificar como ela estava enganadissima, posso resumir, de maneira facil, meu cotidiano. Ele resumia-se a ler todos os jornais possiveis na internet e trocar emails com amigos. Poucas vezes tive que ficar depois do horario (acho que em nove meses desse estagio, soh fiquei umas tres vezes) ou que fiquei o dia inteiro ocupado (nao me lembro de nenhum dia). E, por aparentar ser competente, a outra estagiaria pensou que eu o era...

O que eh mais curioso - e de certa forma assustadora - eh que isso jah tinha acontecido comigo anteriormente. Quando sai do estagio anterior a esse, num site, o presidente da empresa veio falar comigo que ele acreditava muito em mim. Isso porque ele jah tinha me flagrado escrevendo varios emails para amigos e porque eu trabalhava - e pouco - apenas na segunda-feira, nao mais.

Aqui, parece que acontece algo parecido. Algumas pessoas com que converso por algum tempo sempre repetem a mesma frase do "but your english is so good". Chegaram a perguntar se, quando minha irma vai no Brasil, a gente pratica em casa. Sorri simpaticamente, com vontade de gargalhar abertamente.

Basta que vc saiba duas ou tres frases sem sotaque, exatamente como um americano fala, ter alguma desculpa furada (minha irma insiste em dizer que me ensinava ingles quando eu ainda era pequeno, o que eu nao me lembro perfeitamente); e fazer pose. Nao sei bem de que vc tem que fazer pose, mas imagem eh o que importa...

O que, por outro lado, eh assustador, eh que talvez possamos passar uma vida inteira dedicada apenas a "to pretend" e eh possivel que algumas pessoas nunca percebam. (Nao todas, isso eh completamente improvavel.) Talvez passarei uma vida inteira fingindo as coisas que eu pretendo (ou sao pretendidas por outrem) fazer. Uma vida inteira falsa, por falta de vontade e capacidade. hum, nao me soa inteiramente mal...

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