terça-feira, 30 de março de 2004

Martha's Vineyard

Como dito anteriormente, fui a Martha's Vineyard, ilha no litoral de Massachussets, na semana passada, visitar meu camarada Eládio.

De cara, dois aspectos ocuparam praticamente toda a minha visão da ilha. Destrincho-os:

a) Ricos e Famosos:

Comparar Vineyard com Búzios é desleal; esta é menor e não tem nem um terço da organização (anglo-saxônica) daquela. Mas é o mais próximo que posso fazer. Para se chegar lá, deve-se tomar uma balsa que lembra a de Ilha-grande (não há ponte ou qualquer outro meio de transporte que não seja marítimo) e há números limitados de carros por cada barco - tirando o fato que é extremamente caro para atravessar as dez milhas. Porém, Martha's Vineyard (algo como vinícolas de Martha, o nome de uma das filhas do dono de toda a região há trocentos anos atrás) atrai muita gente porque é espetacularmente bonita. Tão bela que o Spielberg a usou para fazer o seu "Jaws" (dizem que o último dos irmãos Farrel, com o Matt Damon, também passa por ali). Tão linda que é destino certo de vários atores do cinemão americano. O John Belushi está enterrado lá, o irmÃo tem uma casa até hoje; o Dan Aykroyd passa todos os verões por ali; vi a casa do Michael J. Fox; o vocalista do Lemonhead nasceu e cresceu lá; Bill Clinton comprou pão e sorvete na grocery que meu amigo trabalha (no seu dia de folga); e Bruce Willis deixou uma nota de cinqüenta para pagar um milk-shake de cinco com o irmão do Eládio, só porque a bebida era realmente boa. Isso tudo sem falar que o John Kennedy Jr. morreu com o seu ultra-leve nessa ilha e que há uma lenda que sua família (a maledita) possui o terreno inteiro de uma praia extraordinária.

Fui no início de primavera e a população é de 20 mil habitantes. No verão chega a 100 mil. Nem quero imaginar.

b) Pobres e Imigrantes:

Impressionante, também, a quantidade de brasileiros na ilha. Eládio achou estranho que eu não tivesse encontrado nenhum na balsa que me trouxe. E, ao final, eu estranhava ter que falar inglês em algum lugar. Há uma churrascaria perto de onde abastecíamos (está escrito "churrascaria" na placa). Ele comprou uma lata de guaraná no primeiro dia, numa loja que vendia até Maizena. Comi frango com quiabo (há algo mais brasileiro, sem ser clichê, que isso?). E nas lojas que Não são brasileiras, cujos donos são americanos tradicionalistas, há sessões inteiras de produtos da terrinha. Ovo de chocolate garoto? Tem sim senhor.

Na biblioteca (aliás, um dia tenho que escrever sobre isso. Todas as cidades daqui, todas, sem exceção ou preferência, têm uma biblioteca com acesso gratuito a computadores com internet, e facilidade para pegar livros) tinha uma parte só com livros do Brasil. Não era sobre o Brasil. Indo de Jô Soares, L.F.V. até C.D.A., Guimarães Rosa.

Os brasileiros que não tem um domínio completo da lingua local, tentam de todas as maneiras manterem-se conectados com a terra brasilis. Pude assistir, por exemplo, na casa da mãe do Eládio, a vinheta do RJ TV e as chamadas do Linha Direta da record (sei lá como é o nome, ora). Os camaradas que encontrei lá, acompanhavam com mais afinco o campeonato carioca que eu, quando estou no Brasil. Um deles estava contente porque estava para chegar a camisa do vasco que ele havia comprado pela internet.

O Eládio até que não (talvez por ter sempre a facilidade de se expressar em inglês e se entender perfeitamente; talvez porque sempre gostou de uma cultura importada, ainda no Brasil, como o rock, ou os filmes estrangeiros; talvez porque tenha uma namorada americana), mas os outros me pareceram que queriam criar uma nova pátria natal aqui. Com as qualidades portáteis (comidas e entretenimento) e sem os defeitos (desemprego, baixa-remuneração e insegurança). Mesmo assim, percebi que quase todos sentem uma saudade sem tamanho do Brasil. Todos queriam escutar como anda o Rio, e se deliciavam a cada coisa ridícula que eu narrava. Lembro quando disse que os ingressos do White Stripes esgotaram-se semanas antes do show, um deles quase não acreditou e se sentiu, como diria?, orgulhoso por isso.

Eu, que me sinto como uma espécie de turista (talvez porque tenha a certeza da minha volta), que quero fazer / conhecer as coisas que os americanos fazem, só para entender como esse povo exótico se comporta, me senti distante dos meus conterrâneos. Mesmo que falássemos a mesma língua, não tínhamos a mesma linguagem.

ps, essa namorada do Eládio, Rebbeca, é de uma cidade no norte de Massachussets, algo como North Hampton, não sei ao certo. E disse que viu, inúmeras vezes, de perder as contas, o Sonic Youth ainda quando eram uma banda de garagem. São da mesma cidade... E ela fez faculdade na University of Massachussets na mesma época que um tal Black Francis e uma tal Kim Deal; as festinhas tinham sempre esses que vão tocar em maio em Curitiba. Disse para ela que a odiava.

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