segunda-feira, 29 de março de 2004

Só para terminar o papo de shows, uma semana e uma informação (completamente diferente) a mais.

Sempre conversei com esse meu amigo que mora aqui sobre a diferença das platéias do Brasil para os States. Cresci ouvindo a história que o brasileiro tem gingado, suingue, o samba grudado no pé. E essas "qualidades" devem (ou pelo menos na minha cabeça deveriam), ser traduzidas em algo palpável ou visível em concertos. Como ele teve (e tem sempre, fila-da-puta, que inveja) a oportunidade de ver um pearl jam, ou um rage against the machine, perguntei se ele tinha sacado isso. Ele me respondia que o Brasileiro (essa massa sem rosto) consegue acompanhar qualquer ritmo, seja dançando ao som de palmas ou apenas batucando na caixa de fósforo. Coisa que gringo não fazia.

Porém, assisti, desde essa conversa (há longíquos quatro anos atrás) alguns shows no estrangeiro que me fizeram duvidar da ineficiência além-mar. Se eu não me engano (o que duvido), foi aquele Roseland do Portishead. A cena de toda a platéia, sentada, e acompanhando às palmas Roads é de encher de lágrimas os olhos, sem frescura. E pensei que (o raciocínio que o Brasileiro tem de si mesmo) era uma forma de orgulho nacional, aplicado às coisas mais cotidianas e corriqueiras. Tipo: "Não temos igualdade social, mas sabemos tocar um tamborim e rebolamos melhor que eles".

Porém qual foi a minha surpresa ao pegar a capa do dvd do rush - se pronuncia ru-xi :O) - onde o mago dos 18 braços, mr. Neil Peart declara algo curioso sobre o Brasileiro.

Pausa para dizer que também fui nesse show no maracanã. E que, apesar deles estarem velhos, serem frios, calculistas, milhas distantes da urgência que o rock vende, ou deixa vender, o Neil Peart é impagável. Não se discute isso. O que ele faz ao vivo não era parecido com o que tem em estúdio; é idêntico. O sujeito não é humano, numas das abduções corriqueiras que ets fazem conosco, devem ter deixado-no por engano, e para o nosso deleite. Mas voltemos.

Ele diz, resume numa frase singela, e me responde, tudo ao mesmo tempo, que não é qualquer platéia que acompanha, nota por nota, a YYZ (que é totalmente instrumental). Eles sabiam que uma platéia assim não se encontrava em outro lugar.

Quem já deu o mole de escutar o rush, já escutou essa música com certeza. As versões ao vivo ainda são melhores porque tem um solo que não existia no estúdio. E sabe que não é qualquer um que conseguiria tocar toda a música. Aliás, duvido que qualquer um dos roqueiros urgentes, punks, um-dois-três-quatro consigam fazer isso. ('Peraí, antes das pedradas, não 'to defendendo nem atacando: o fruta do Geddy Lee também não conseguiria fazer metade das coisas que Joe Strummer ou qualquer um dos Ramones conseguiu fazer). E, o extraterrestre das baquetas diz que o Brasileiro, com o seu instrumento, o coro, consegue tocar a YYZ. Nada mal para encher a nossa bola. Já estou orgulhoso novamente.

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