domingo, 2 de maio de 2004

Argentinos

Acho que a melhor hora para falar sobre um livro é quando ainda estamos no meio dele, empolgados, desejosos de saber o final - mesmo que a tal obra seja de ensaios teóricos. Aliás, esse é uma das vantagens do livro sobre qualquer outra forma de obra de arte (tenho arrepios de digitar mais esses lugares-comuns).

Essa introdução é para dizer que recebi de aniversário de minhanamorada um libreto meio crítica literária, meio ensaio autobiográfico, ou como o escritor mesmo diz, uma maneira diferente de escrever sobre sua vida, falando sobre os livros que ele leu, de um sujeito chamado Ricardo Piglia. Argentino. Assim como Dom Jorge Luis, o Borges, e Señor Júlio Cortázar.

Inclusive, por essa "coincidência" nacional, quase cometo uma heresia (brasileira) e começo esse textículo elogiando os senhores aqui do lado. Mas, tenho em minha defesa a idéia de que não sou um brasileiro típico. Sou tão apaixonado por futebol que torço pelo fluminense. E os meus conhecimentos acerca de samba se resumem a escutar Chico Buarque, Paulinho da Viola, Cartola e olhe lá.

E, para aliviar um pouco minha culpa de ser fã de argentinos, posso contra-argumentar que existe uma lenda - que em breve, se todo o planejamento sair do papel, poderei comprovar - que Buenos Aires, só essa cidade, tem mais livrarias que o Brasil inteiro. (Nada de assustar considerando que temos a metade de salas de cinema que o México, por exemplo)

Contudo, voltemos para o Ricardo, motivo dessa minha intromissão. O livro é leve, apesar do tema pseudíssimo, de teoria literária, ou crítica. Pelo que deu para entender até agora, ele já fez isso outrora e agora só meteu um caô para pagar as contas de casa, sabe como é? não estamos nadando em dinheiro aqui na América Latina. Mesmo assim, mesmo parecendo por definição uma empulhação, o livro tem seus momentos. Piglia tem uma certa queda por uns autores que levantam meu sombrolho: Kafka (cita pouco), Joyce (nunca te li - tirando o menos joyciano, "Dublinenses"- sempre te respeitei) e Monsenhor J. L. Borges. Aliás, um dos ensaios é sobre o último conto de Borges (que nem sei se é apócrifo e, por isso mesmo, melhor ainda).

O que me interessou mais foi "conversar" com um sujeito que tem admiração pelos mesmos caras que eu e saber que, de vez em quando, não é que eu tenho a mesma percepção que ele tem? Para um desconfiado e inseguro como este que vos fala, funcionou como um acalento. Funcionou como um sinalizador para dizer: é por aí mesmo. Ou, alguém já trilhou esse caminho e voltou vivo. Coisa que de vez em quando eu duvido de mim mesmo.

Depois desse "Formas Breves", só tenho uma vontade: ler Adolfo Bioy Casares.

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