segunda-feira, 5 de julho de 2004

Anything else

Eu juro que serei breve. Qualquer coisa que eu redigir e parecer sério e definitivo não deve ser levado muito a sério, porque ele é um dos sujeitos que mais aprecio. A crítica objetiva se perde em algum lugar. Se acreditasse em deuses, ele seria uma espécie de. Acima do bem e do mal. Falo, obviamente, de Woody Allen.

Dessa vez, a persona "Mia Farrow" ou "Diane Keaton" é interpretada por Cristina Ricci (sempre boa, mas talvez novinha demais para a nova-iorquina neurótica). O do próprio Allen, é pelo Jason Biggs (anos luz de American Pie, e, como todos os outros que já tiveram essa incumbência, com gagueira e outros cacoetes).

E como você já deve ter percebido, ele voltou ao tempo das comédias românticas com neurônio e distante dos finais previsíveis, ou no caso dele, previsíveis ao seu modo. E é desse seu “segmento” que mais gosto. Por isso, considero esse seu melhor filme da fase Dreamworks – suas últimas quatro produções foram patrocinadas por Spielberg.

(Apenas como lembrança: Small Time Crooks, onde ele volta a sua primeira fase, mais pastelão, e que agradou em cheio a classe-média americana; Jade Scorpion, ainda garrada na torta na cara; Hollywood Ending, da parcela de homenagem aos meios. Primo direto de Tiros na Broadway, Rosa Púrpura do Cairo, A era do Rádio etc. E esse atual, que tem como parentes próximos: Annie Hall, Manhattan...).

Outro motivo que me leva a gostar desse filme é a participação do diretor-roteirista apenas como coadjuvante (mas que, quando aparece, reduz seu interlocutor ao serviço de “escada”) lotado de diálogos irônicos. Parece que Allen aceitou o fato de que ele não pode mais ser o galã de seus filmes, que não cabe, que fica inacreditável. Reservou-se o papel de mentor e ficou perfeito nisso.

A história nem vale a pena ser contada, você já viu algo igual em outro filme dele. Mas, como Luis Fernando Veríssimo já dizia em mil novecentos e setenta e poucos, o humor de Woody Allen vem dos “stand-up comedies”. Por isso a história, os formatos, os ângulos de câmera, as longas tomadas para os diálogos recheados de piadas, as fontes nos créditos, a disposição em ordem alfabética dos atores, tudo pode ser igual, mas seu humor é novo. Renovado.

Há bolas fora, sim, há. Você, mais exigente, menos cego, achará aos montes. Mas eu não vou falar nada deles. Para mim, basta dizer que é o melhor Allen dos últimos tempos.

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