sexta-feira, 16 de julho de 2004

Conservadorismo
 
Por longos anos, me senti um liberal. Agora, percebo que, em apenas as grandes questões, as mais óbvias, tomo as atitudes mais distantes de arcaísmos. Ao ler algo que escrevi logo ali embaixo, vcs (virtuais) perceberão que pratico a defesa da narrativa mais tradicional, por exemplo. Histórias devem ter início, meio, fim, esses detalhes que não necessariamente aparecem na mesma ordem sempre. Deve respeitar as próprias regras que se propõem logo de cara. E um imenso etc etc etc.
 
Entretanto, aqui não estou para falar sobre cinema ou qualquer obra que seja estritamente narrativa. Quero confidenciar que, por ser esse conservador, que agora se abre, tenho uma certa aversão às músicas eletrônicas de uma maneira razoavelmente restrita. Não me agrada nada que seja sem muito sentido, que não tenha, ao menos, suingue. Não me venha com trance e seus descendentes, por exemplo. Talvez seja defeito meu - no caso a falta de fábrica de manemolência. O único estilo que provém - não necessariamente - de computadores que gosto de olhos fechados é o trip-hop. Também com a dupla mais conhecida sendo Massive Attack e Portishead, só não gosta quem tem pavor da tristeza. (só para não me tacharem de tradicionalista ao extremo: acho, às vezes, drum & bass bem interessante...).
 
Essa introdução absurdamente grande (isso porque eu agora finjo ser jonaleiro) é para falar que minha banda preferida atualmente  é o Sonic Youth, sendo seu melhor álbum (na minha humilde) o penúltimo, murray street. Tudo isso, também, porque acabei  de baixar o último deles, sonic nurse, terceiro na parceiria com o mesmo produtor (Jim O'Rourke), desde NYC ghosts and flowers. E, nessa nova fase, eles abusam de estruturas melódicas bem mais densas, maduras, menos chiados (há, não é SY sem chiado), três guitarras dialogando, discutindo para chegarem a um veredicto, músicas de sete minutos... impressionantes.  
 
Da minha vitrola não sai (também):
 
a) Tv on the radio (Desperate youth, blood thirsty babes) - espetacular o rock sem ter a impressão de ser rock, coro dos negões, bateria eletrônica na aparência, baixo sobrepondo às guitarras, climões excelente. A melhor do mundo é bomb yourself, depois king eternal;
 
b) White Stripes (Elephant) - sim, eu sei, é (ou era, depende de quem está julgando) hype, mas o que é aquele baixo em seven nation army? E a brincadeira entre os vocalistas na última música?;
 
e c) PJ Harvey (Uh huh her) - a moçoila volta ao batom borrado (perfeita expressão de meu camarada e chefe Tambarotti), sem esquecer a madureza de últimos álbuns, ótima combinação.
 
Ou seja, só roquenrol, que já está morto há, no mínimo, dez anos, com o atentado cometido por Kurt Cobain contra e a favor dele mesmo.

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