sexta-feira, 30 de julho de 2004

(Na minha humilde opinião)

La Ciénaga - O Pântano - não é a obra-prima que ouvi falar por . Mas, também, fica longe de ser um filme péssimo como um amigo meu sentenciou. Principalmente se vc sobreviver à primeira meia hora de projeção, onde estão concentrados seus maiores cacoetes. Depois as coisas começam a se encaixar e toda a engrenagem funciona direitinho.

Por puro preconceito, admito, o que eu menos gostei foi de um estilo de Lucrecia Martel de sempre propor um ângulo meio Glauber, Godard, essa vanguarda década de 70, que é datada e envelheceu demais. (Um escritor, argentino e cego, diz num prefácio de seu primeiro livro que ao tentar ser "moderno", vc se esquece que já o é). E o sestro acontece como um péssimo portão de entrada.

As imagens são sempre diferentes de tudo o que vc conhece, mesmo retratando uma realidade que é nossa cotidiana. Aliás, isso é bem legal: ver como na Argentina e (eu suponho) em toda a América Latina somos quase iguais. Apenas mudamos nossos objetos de preconceito (nós contra negros e pobres, eles contra índios e pobres), mas o praticamos com as mesmas regras. Ou como a classe-média sempre tenta se fingir de rica, quando o mais próximo do champagne que podem beber é sangue-de-boi com gelo.

E o melhor do filme: numa época onde o cinema é dominado por publicitários e diretores de clipes, e tudo é lindo, maravilhoso e perfeito, Martel opta por retratar os bregas, os ridículos, os feios, sem para isso, usar uma maquiagenzinha qualquer. É realista até o incômodo. (Aposto que vem daqui o desgosto de meu camarada).

Há ainda algumas outras interpretações que podem ser feitas, como a relação da família entre si (pai ausente, mãe alcoólatra, irmãos quase incestuosos, irmã lésbica, garotos perversos). Mas, acho que todo o filme pode ser resumido (e por isso, simplificado) numa das frases definitvas de outro amigo meu: "'O Pântano' tem tantas oportunidades de ser uma merda que ao se salvar, se torna bom". De certa forma, concordo.

Nenhum comentário: