domingo, 18 de julho de 2004

Quixote
 
Se um dia eu for rico e famoso, sendo convidado a publicar livros sem nenhuma importância, só por causa de meu nome na capa ("sonhar / não custa nada"), já terei a idéia para o meu primeiro descartável: "Os livros que li durante o Quixote". Assim como na alegoria borgeana do livro de areia, onde, assim que vc abre o dito-cujo, nunca mais conseguirá achar o fim ou o início do mesmo, a minha edição das aventuras do "Engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha", com suas bem nutridas 604 páginas, recheadas de letras minúsculas que merecem uma lupa na leitura, parece não ter fim. Quanto mais eu leio, menos evoluo. Devo esta nele há uns dois meses - entre indas e vindas - e continuo nas páginas compreendidas entre o cem e o duzentos.
 
Isso não quer que ele seja ruim. Quem sou eu para discordar da opinião da maioria dos escritores vivos, ao redor do mundo, que foram entrevistados ano passado para decidirem qual é a melhor obra já feita na literatura (essa coisa de jornalista querendo arranjar pauta...) e apontaram esse Cervantes. Eu até gosto muito do Sancho Pança. Acho-o engraçadíssimo, e suas passagens solo são, infinitamentes, as melhores do livro.
 
Talvez seja, apenas, um pouco repetitivo, já que sabemos desde a página sete que o Dom Quixote não bate bem da cabeça por causa da leitura excessiva de romances de cavalaria (quem mandou ler demais?), e a partir daí, é somente ação dos protagonistas. Isso quer dizer que o autor teve que se desdobrar para arranjar aventura para tanta página (para falar a verdade, esse deve ter sido o menor dos problemas, já que "Dom Quixote" foi publicado em capítulos, como folhetim, e quanto mais páginas, menos morto de fome ficava Cervantes), e muitas vezes ele não tem como não se repetir. Mas, sai-se muito bem.
 
Só que, por todos os óbvios motivos (linguagem antiquada, letras minúsculas da edição, previsiblidade alta da trama), tenho que recorrer a outros livros para me oxigenar durante sua leitura. Isso, como podem ter percebido, é apenas uma introdução ao real assunto desse post. Li um dos melhores livros de minha vida. Mas será descrito apenas no próximo texto (ou seja, este aí de cima).

Nenhum comentário: