quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Benesses da profissão

Recebi na semana passada um convite para a cabine de um filme que não reconheci; mas como era perto de casa, num dia e horário que não fazia nada, aproveitei e fui. Então pude conferir o filme da melhor maneira que há: sem expectativa.

Chama-se 'O Retorno' (tentem agora em russo: 'Vozvrashcheniye'), e é a estréia de Andrei Zvyagintsev na direção de longa-metragens. Quando vi a primeira cena, lembrei-me que assistira já o seu trailer e que este havia me passado uma péssima impressão. Logo, a partir daí, pude conferir o filme da segunda melhor maneira que há: com baixa expectativa.

Com fotografia escura (parece uma produção pb), 'O Retorno' revela pouquíssimo de sua história. Não sabemos até o final qual é o nome do pai, por exemplo. E descobrimos as nuances do roteiro a medida em que elas são apresentadas também para as personagens, fazendo com que tenhamos as mesmas reações que eles.

No início, parece que tal produção narra apenas um embate entre pai ausente e os filhos, um com temperamento forte, outro se sentindo agraciado porque aquele voltara. Mas percebemos que as interpretações começam a aumentar geometricamente.

O pai é de temperamento duro, bruto, resolve tudo com uma violência não-física, na imposição de sua vontade pela força de suas palavras. Mesmo assim, tendo que cumprir uma missão (não revelada até o final, mas esse detalhe em nenhum momento importa), se desvia para ficar com os filhos, demonstrando sua boa-vontade com os moleques, o que não é muito perceptível.

O moleque mais velho está tão cego de felicidade com a volta do pai que não percebe nenhum defeito dele. Fica pouco crítico e permanece boa parte do filme, propositalmente, à sombra do irmão - este sim, trava embates com o velho, porque não crê que ele os ama, sentimento este ocasionado pela longa ausência dele.

Essa é, basicamente, a sinopse. Só que não passa nem em dez por cento os climas noturnos do filme. É perceptível o cuidado que tiveram com cada cena, fotograma, enquadramento. Todos os atores estão bem, ao ponto de eu quase duvidar de outra personalidade diferente daquela mostrada nas telas. E a direção te leva em direção ao clímax de uma forma que vc não sente. Quando menos espera, está tão nervoso (novamente) como os personagens na tela.

Para quem quiser assistir ao trailer (eu não aconselho) está aqui.



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