quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

como comparar pares distintos

é estranho. como se eu tivesse dormindo, do tipo morto, quando vc sente que há uma separação entre a sua pele e o que realmente é vc. como se vivesse anestesiado. não é um sonho, não, não é algo tão comum. contudo admito: é bastante nebuloso. não sei ao certo nada, apesar de ter uma certeza de assustar. ela me traz uma segurança ao ouvido que percorre todo o meu corpo, e, quando longe, eu tenho medo. como se ela pudesse descobrir em qualquer esquina alguém infinitamente melhor que eu.

não tento dominar nada, quiçá impor minhas vontades, apenas absorvo. e, de vez em quando, me reservo à minha insignificância. como sou pequeno ao lado dela. como, para ela, tudo é tão seguro, tão certo, tão 2 + 2 = 4. eu não sei os caminhos a que tomar diariamente. tropeço em todas as pedras que encontro no caminho. esqueço os pequenos detalhes da vida, para me concentrar - ou me enganar com esse raciocínio - nos grandes. e ela está em todos os lugares.

uma personagem que se admite diálogos sobre qualquer assunto, sob qualquer atmosfera e ainda apresenta sempre os melhores argumentos. ao final, sou convencido daquilo que, para mim, era impossível ou impraticável.

confesso um receio grande pela minha pequeneza. desapareço ao lado dela. como se fosse um personagem terciário de um dos poucos romances do kafka. escondido, escuro, pelos cantos, tentando não chamar a atenção para mim e para os meus óbvios defeitos. ela, peito aberto, coragem, olhos nos olhos, menos quando estamos perto, quando sentamos no mesmo banco (apesar de já ter melhorad0).

um frio na barriga constante, algumas obrigações a que me proponho para tê-la, como embaçar ainda mais a minha volta, chamando a atenção unicamente para mim, como se eu tivesse algo a mostrar. mas, apenas enganando a sua visão periférica. é o que me resta. otimistas diriam que há hipótese de repetir esse mesmo procedimento eternamente. é estranho, mas eu pago para ver.


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