terça-feira, 25 de janeiro de 2005

A tecnologia faz, a tecnologia paga

Se é muito fácil baixar a música, e, além do mais, de graça, por que o sujeito vai pagar um absurdo pela capa de plástico e o encarte? Por isso, sempre fui a favor de Napster, Audiogalaxy e, mais recentemente, Soulseek. O preço dos CDs brasileiros mereceria, inclusive, um texto só sobre ele. Mas não falemos sobre isso.

Com o passar do tempo, a minha vertente comunista começou a diminuir. Abri meus ouvidos a alguns argumentos dos homens das gravadoras (dá até arrepios admitir isso). Contudo, afirmo aqui: nunca me combali com eles.

Eles diziam o óbvio: com a troca de MP3, as multinacionais perderiam dinheiro. Há um exagero aqui, os grandes nunca perdem dinheiro, apenas ganham menos. O que, para eles, dá quase no mesmo.

Já admiti para mim mesmo que vivemos num mundo porco, capitalista e cruel e que tudo se move a partir da verba. Mas não posso mentir: sempre gostei quando descobria uma gravadora pequena que conseguia vender um CD pela metade do preço das chamadas Majors. Pensava que se elas conseguiam, por que não uma gigante?

Sempre achei uma falta de imaginação e uma certa preguiça intelectual por parte das grandes não conseguirem arranjar outras fontes de renda. Esse é um caminho que não há volta. Seria lutar contra a tecnologia, como fizeram os trabalhadores no Luddismo.

Por isso, me coloquei a pensar nisso. Claro que eu não cheguei a conclusão nenhuma porque não via como as pessoas poderiam gastar dinheiro em algo que elas teriam de graça. Três fatos mudaram a minha opinião. Sem ordem:

Li no dia 24/01/05, no Caderno da Folha de Informática, uma entrevista com o Pedro Mariano, a cabeça 'artística' da Trama. Maior gravadora independente, de acordo com o texto, eles não estão no vermelho, apesar de disponibilizar parte do repertório de seus artistas para download de graça. De acordo com Pedro, o fã não se contenta com aquelas poucas músicas e quer todo o álbum, assim, o MP3 funciona como um tira-gosto.

Mas o meu raciocínio renovou o argumento: se o cara já baixou uma música, por que compraria o CD?

Volto no tempo. Há duas semanas fui à praia com alguns camaradas. Um deles editou um clipe de uma banda mequetrefe, mas que toca muito em rádios. Segundo ele, os caras do grupo ganham muito dinheiro com a venda do MP3 para tocar em celulares. É a segunda fonte de renda deles.

Pensei: quem será que paga por isso? E, como foi uma informação não-oficial, não levei em conta.
Hoje, na Ilustrada, porém, a oficialidade veio. Empresas de telefonia americanas e européias estão lucrando muito com o download de músicas. O Pedro Mariano fala sobre isso também, só que eu não lembrei anteriormente.

Não digo que o toque de celular salvará as grandes empresas ou o mundo da música - porque esse nunca sofreu o efeito disso. Mas que a própria tecnologia resolve o problema que ela criou. E lutar contra ela é a maior burrice que existe. Falta agora as Majors entenderem isso.

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