segunda-feira, 23 de maio de 2005

A justificativa do mal

Não sou um grande fã de Star Wars. Fiz um teste sobre os filmes e acertei 6 de 14 perguntas. Mas, me lembro perfeitamente do dia em que assisti ao primeiro filme produzido da série, o "Nova Esperança". Era uma sexta-feira, sessão da tarde. Eu deveria ter algo entre seis e 10 anos. Fiquei extremamente curioso sobre aquele universo, nada que mudasse a minha vida, como aconteceu com o bonequinho, mas os conceitos gerais da série eram/são muito bons - na minha humilde opinião. Acho os jedis e toda a sua filosofia meio budista, totalmente oriental, algo bem interessante. Por isso fiquei curiosíssimo em conferir os três primeiros episódios (da cronologia star wars).

Nestes, contudo, percebi algo que diferia da trilogia "original": os jedis eram passíveis de erros. Foram humanizados, capazes de julgamentos incorretos e conclusões precipitadas. Algo impensável para mim, considerando os capítulos IV, V, VI.

Isso me chocou um pouco. Admito que prefiro os sobre-humanos dos episódios primogênitos (em nossa cronologia).

No III há exemplos do que acabei de falar. (Vou comentar o filme, se não quiser saber sobre, pare por aqui).

Todo mundo sabe que Anakin se transformará em Darth Vader porque quer manter Padmé viva. Entretanto, há outros motivos de interpretação mais cuidadosa. Ele começa a dar ouvidos para o senador Palpatine porque, além de ter afinidades com ele, perdeu um pouco a crença e a confiança nos jedis.

Anakin é ambicioso. Quer ser mestre, mesmo bastante novo. Tem sede de poder. Isso tudo é inegável. Entretanto o conselho jedi pede para ele fazer espionagem com o senador, o que é contrário à ética jedi - de acordo com o próprio Anakin. Quando ele expõe esse seu desconforto ao seu mentor, Obi-wan Kenobi, este argumenta simplesmente: estamos em guerra. Como se fosse a desculpa perfeita para quebrar as regras de conduta. Já vi ditadores mais coerentes.

Outro momento dúbio é a luta entre o Mace Windu e o próprio senador, agora Darth Sidious. No momento em que Windu desarma o Sith, ao invés de querer prendê-lo, ele tenta matá-lo. Isso é questionado no início do filme, quando Anakin desarma o Conde Dooku e o Senador manda matá-lo. O "young Skywalker" afirma que é contra a ética dos jedis matar alguém desarmado, mas o senador insiste e ele executa a ordem.

Ou seja, na frente de Anakin há duas violações graves do código de comportamento dos seus pares. É mais que normal que um garoto com forte tendências à megalomania fosse influenciado por isso. Um lado promete que ele não perderá sua mulher, o outro pisa na bola a todo momento. Tirando o caráter sensitivo, através de argumentos, qual é o melhor?

Pelo outro lado, há um diálogo entre Anakin e Yoda, logo no início do filme, que explica muita coisa. O garoto conta ao ancião que sonha com a morte de alguém próximo. Yoda responde que não se deve antecipar a dor e que a morte é algo natural, acontecerá com todos. Anakin não se conforma em perder outro alguém que ama.

Ou seja, CLARO que Anakin era muito ambicioso e gostaria de mandar no universo inteiro, caso pudesse. Mas, a base de todos os seus ensinamentos se mostra falha quando ele mais precisa de fundamentos. Como se ele descobrisse que, se todos são factíveis de erro, então é melhor ficar com aquele que lhe traz mais vantagens. Poucos diriam que ele está errado...

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