terça-feira, 14 de junho de 2005

Não vivemos num país democrático. Ainda bem

Sábado, 4 de junho (se eu não me engano), O Globo publicou na primeira página a foto de um PM dando um bico na cara de um ladrão de celular. Qual foi a minha surpresa quando, no dia seguinte, quase TODAS as cartas apoiavam a agressão do policial, no melhor estilo, bandido bom é bandido morto.

Paulo Roberto Pires, Nomínimo, na semana passada, criticou duramente essa enxurrada de apoio, dizendo, entre outras palavras sensatas, que "Ao pedir que a polícia bata, torture e mate se preciso for, os caros leitores do “Globo” estão abrindo o mais perigoso dos precedentes. (...) É um suicídio estimular a truculência da polícia, sob pena de esta lógica se realimentar perpetuamente". E também foi criticado duramente em emails.

Ou seja, a classe-média, aquela que tem dinheiro para assinar O Globo, que sabe da existência do Nomínimo, e a que sempre escolhe os nossos governantes - direta ou indiretamente - não é ouvida quando o assunto é repressão à violência. Ainda bem. Para eles, "chute na cara é pouco para essa cambada de vagabundos e marginais." Ou "A guerra civil instalada no Rio não nos permite desperdiçar tempo e energia para fazer valer os direitos de bandidos, sob pena de a sociedade continuar acreditando no mito do ‘bandido cidadão’."

Fico com medo de algum Bolsonaro da vida vire moda e vivamos num clima onde as violências policiais serão ainda mais aceitas (o que já é), até pelos poderes públicos (oficialmente não, mas...) e pelos órgãos da imprensa (o último bastião dos direitos humanos). Se continuarmos assim, a tortura será institucionalizada (ainda mais) e receitada pelas leis aos bandidos. O difícil, como perfeitamente dito pelo Paulo R. Pires, será distinguir os bons, os maus e os feios.

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