terça-feira, 2 de agosto de 2005

Arte: espanto x choque

"Baudelaire disse que a surpresa e o espanto são as características básicas de uma obra de arte. É o que penso. Camus diz em "O Estrangeiro" que a razão é inimiga da imaginação. Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer uma coisa bonita" - Oscar Niemeyer

Já ouvi muita gente dizer (confundir) que o objetivo da arte (se é que há objetivo) é chocar. Ou, a diferença entre objeto comum e o artístico, seria o choque. Ao encará-lo ficaríamos petrificados, paralisados ante a sua originalidade, a sua beleza, ou qualquer outro adjetivo que pudesse ser encaixado aqui.

Fiquei alguns dias pensando nisso. Não sei se conseguirei definir o que eu considero arte, nem acho que caiba alguma consideração restrita. Algumas coisas permearam as minhas elocubrações e, hoje, me deparei com o Jabor que, resumidamente, fala sobre como a podridão é valorizada, hoje, como arte. Não tenho como contra-argumentá-lo. Nem é a minha intenção. Apenas, talvez, corroborá-lo.

Acho que a definição de arte só poderia ser dada com idéias de alto caráter interpretativo e relativo como estas: a capacidade de causar espanto com a beleza.

Tive essa idéia olhando para um pôr-de-sol (será que foi um pôr-de-sol? já não me lembro mais. Mas o exemplo serve à exatidão). Era belíssimo. Ficaria ali horas observando-o. Nada mais importava, sentia-me em paz, tranqüilo. Aquilo era harmonia (isso não quer dizer que a arte deve priorizar apenas a harmonia).

Em seqüência, quando o sol já havia se posto, pensei que cada vez menos pessoas reparam em objetos / cenas belos (as). Ninguém dá a menor importância para isso. Imaginei o caráter apenas quantitativo que impera nos relacionamentos homem-mulher atualmente. Não se perde mais tempo conferindo os detalhes da sua parceira (o). Basta consumi-la. (Não vou falar sobre sociedade de consumo, podem ficar tranqüilos.)

Beleza seria o objeto capaz de provocar espanto. Fazer-nos abrir a boca e perder o rumo.

Mas acho que devo desenvolver melhor isso...

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