quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Esercizio per l'università

O “mensalão” no cinema

Não é de hoje que o casamento entre cinema e política stricto sensu rende filhotes. Como exemplos, só de filmes lançados este ano, temos: “Cabra Cega” de Toni Venturi, “Peões”, de Eduardo Coutinho, e “Entreatos” de João Moreira Salles. Junto a isso, o Brasil vive um período conturbado que atinge o Poder Executivo e o Legislativo nacional. Inúmeras denúncias de corrupção envolvem parlamentares e até mesmo o presidente da República. Pode-se suspeitar então que, mais dia, menos dia, este cenário sirva para alguma produção cinematográfica como mote ou pano de fundo, certo? Bem, não se pode ter tanta certeza.

Apesar de achar que política sempre fornece um belo material para o cinema, o roteirista e diretor chileno radicado no Brasil, Jorge Duran diz que essa crise política não difere de outras: “a crise pertence ao Brasil, não é nada diferente do que houve”. Segundo o roteirista de “Dois perdidos numa noite suja”, o escândalo só tomou essa proporção porque Lula não tem base política: “com Fernando Henrique também vivíamos uma sucessão de crises, com queda de ministros e tudo mais. Raramente, porém, cogitaram seriamente a queda de FH”. Professor da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, Márcio Gonçalves também partilha de opinião parecida: “acho que a atual crise não veiculará em um filme no futuro”.

Quanto à simbiose entre cinema e política aludida no primeiro parágrafo, alguns a entendem como algo intrínseco, como Jean-Pierre Gorin. O fundador, ao lado de Godard e outros do Grupo Dziga Vertov de cinema esquerdista na Paris de 1968, disse para O Globo em 23/08/05 que “qualquer cinema é político, porque todo filme é reflexo de uma história e é feito com uma determinada função”. Duran tem outra opinião: “há uma diferença de perspectiva entre o público e o cineasta”. Já Gonçalves é mais filosófico: “depende do que você chama de política”.

O cineasta chileno, atualmente na fase de pós-produção do seu “É proibido proibir”, sugere um possível motivo para que a atual crise nossa de cada dia não paute também o cinema: “ainda não conhecemos de verdade todos os fatos que circulam sobre os escândalos”. Talvez com o distanciamento histórico necessário e os segredos sendo revelados entre em cartaz nas salas de exibição, algum longa-metragem sobre o “mensalão”. Basta esperar.

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