quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Será que ainda tem jeito?

O Globo de hoje traz uma matéria sobre um prédio de inacreditáveis 11 andares construído na Rocinha. Entre outros detalhes, mostra que, numa construção vizinha, cobra-se R$ 1500 de aluguel. Nada mal, dá para se viver de renda assim.

Alfredo Sirkis, o secretário de Planejamento da prefeitura, diz que os traficantes locais impedem que ele faça o seu trabalho: "O controle militar do tráfico dificulta nossa atuação. Mais recentemente, detectamos indícios de que, além de explorar o gás e o serviço de mototáxis, traficantes estão envolvidos com construções na favela. Tivemos de ter o apoio do Bope para demolir este ano uma casa erguida em espaço publico ao lado de um Ciep."

E então, chegamos pela primeira vez a pergunta inicial de tudo: será que ainda tem jeito? Será que conseguiremos um dia ter uma comunidade integrada ao resto da cidade ao invés de um gueto, onde quem manda não é exatamente o Estado?

Mais a frente na matéria, a Secretária municipal de Urbanismo da administração Marcelo Alencar, a arquiteta Lélia Fraga diz que, na época dela, sugeriu levar todos os favelados "da Rocinha, do Vidigal, da Vila Parque da Cidade, da Vila Pedra Bonita e da Vila Canoa" para o que ela chamou de "área residencial" a ser construído na Zona Portuária.

E então a pergunta se modifica: será que jogar a "poeira" para debaixo do tapete é a solução? Esconde das vistas das classes-médias e está ok?

Não sei. Talvez a sugestão da sra. Fraga resolvesse o problema das péssimas condições de habitação. Mas duvido que os moradores do morro de São Conrado deixassem a praia, o conforto de morar próximo de tudo, para ficar na Praça Mauá, mesmo que com casas com toda a infra-estrutura.

O que mais me choca, contudo, é a contínua negação do Estado em entrar nas favelas. Vá lá que a Globo não queira subir morro, com medo que mais um Tim Lopes morra, mas o Estado? Não to nem dizendo para combater o tráfico, que isso seria pedir demais. É entulhar os guetos com diversos serviços públicos, gratuitos e de qualidade (ah, meus tempos de Uerj), ao ponto de transformá-los em um lugar melhor de se viver, onde as pessas tenham orgulho de viver e não precisem pagar (a mais) para conseguir que recolham os seus lixos ou pedir pelo-amor-de-deus para serem atendidas nas filas de hospitais no asfalto. Não sei se isso daria certo, nem em curto, médio quiçá longo-prazo. Mas, seria uma boa tentativa.

Mas o que é que eu estou falando aqui? O único morro que subi na vida foi o de Nova Iguaçu, que em lugar das favelas há mansões. Além do mais, sugeri que os governos investissem em infra e serviços básicos. Devo estar com a cabeça na Argentina ou Chile...

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