quinta-feira, 29 de junho de 2006

Divinos x Humanos

Se você tivesse que escolher entre o Homem e Deus, com quem ficaria? Esta questão me ocorreu em São Paulo, mas especificamente ao pedalar pelas alamedas artificiais do Ibirapuera e comentar que era bonito. Logo fui contrariado dizendo que qualquer passeio na Floresta da Tijuca era melhor. Achei que estavam comparando duas coisas completamente diferentes, pertencentes a duas categorias díspares. Tipo geladeiras e elefantes.

Mas, em seguida, lembrei que não era a primeira vez que sentia isso. Toda vez que volto de uma cidade razoavelmente organizada (aconteceu com Nova York, Buenos Aires e agora São Paulo) para este balneário disfarçado de urbe, sinto-me um pouco deprimido. Como se só dependêssemos da força divina. Se fôssemos contar com os Homens, não teríamos chance.

Da última vez, por acaso, tive como refresco o Outeiro da Glória e a Confeitaria Colombo. Ambos me mostraram que havia salvação. Que éramos "abençoados", mas tínhamos também colaborado para o melhor aproveitamento da malha urbana.

Agora o choque foi menor, mas não tive nada para absorvê-lo. E fiquei com essa comparação na cabeça. Se tivesse que escolher entre o Homem e Deus, não tenho dúvidas, ficaria com o primeiro. Com o humano, posso me comparar e me espelhar, saber que haverá hesitações, atitudes errôneas (mesmo que a História só relate os lucros) e imitar e superar seus efeitos grandiosos. Com Deus não. Ele é perfeito e onipresente e onisciente e onipotente. Mesmo que, de acordo com os católicos, sejamos feitos a sua imagem e semelhança, não temos condições físicas de competição. Estaríamos, eternamente, numa posição de submissão.

Isso tudo não quer dizer que eu ache o Rio mais ou menos bonito que qualquer cidade do mundo. Quando chegamos, o táxi veio pela praia de Botafogo e à vista do Pão de Açúcar, com a Baía de Guanabara com barquinhos brancos e o céu azul o emoldurando, fiquei quase sem fôlego. Não é uma comparação estética. Mas o que defendo é que gostaria de morar numa cidade que me proporcionasse orgulho. Não por causa de Deus, mas pelos seus homens.

ps.

Admito que tenho um pouco de implicância sim, com o Rio de Janeiro. Mas é que nem aquele garoto que gosta da garota, mas não quer dar o braço a torcer. É como se visse um talento desperdiçado. Como se pensasse: meu Deus (olha ele aí de novo), por que fazem isso com a cidade?

Talvez Deus não seja o culpado. Talvez o Homem, com todas as suas ambigüidades, sendo bom e mau ao mesmo tempo, possa construir um lugar como o Café Collon (em BsAs) e ignorar as áreas distantes da vista do homem-comum-da-classe-média-zona-sul-carioca. Curiosamente só nesse caso, o Homem seja igual a Deus. Percebendo que a maldade e a bondade são pedaços da mesma 'figura' mitológica. Seja o divino ou o humano.

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