quarta-feira, 14 de junho de 2006

A única coisa que fiz digna de alguma posteridade na faculdade este semestre:

Ser ou não ser populista: eis a questão

Há políticos que dariam um dedo (mindinho) para serem associados com a idéia de “diminuição do peso relativo das antigas oligarquias rurais”; ou por serem os responsáveis pela “criação da legislação trabalhista que assegurou direitos aos trabalhadores urbanos”; ou por terem industrializado rapidamente o país e terem o nacionalismo como marca da política nacional; além do estatismo na economia, com reflexo no aumento da classe-média. Todas essas características, além de “regimes que rompiam com instituições democráticas”, compõem a terceira rubrica do dicionário Houaiss para a palavra “Populismo”.

Em compensação, outros, se indispensável fosse, largariam até a religião (evangélica) para poder se livrar do estigma de “paternalista” e “demagogo” que a palavra recebeu de uns tempos para cá (segundo o mesmo dicionário, em sua quarta acepção da palavra, a partir da década de 1980).

Dicionários não são os melhores lugares para se encontrar definições para conceitos históricos. Mas é inegável que eles fotografam um momento e a maneira como tal palavra é encarada pela sociedade. Assim, podemos perceber a perda de elementos “positivos” (chamemo-los assim) e o crescimento de um estigma “negativo” em relação a denominação. O que nos leva a crer que não é um elogio ser chamado de “populista” hoje em dia.

Contudo isso não deveria ser uma regra. Usa-se a nomenclatura na tentativa de se colar um adesivo para identificar, em uma palavra, como se comporta tal político. Dessa forma, o público em geral sabe como se comportar em relação àquele homem (ou mulher). A associação é imediata e não requer raciocínio. Se na foto está o “Populista”, sabemos que não devemos acreditar em nada que ele faz. Aliás, mais recentemente, é possível ainda associar outros ícones “negativos” ao “Populista”: é um retrógrado, que luta contra a ordem econômica mundial; um xenófobo, que não aceita investimentos estrangeiros; aproveitador, pois quer usar a população para se manter no poder indefinidamente. A lista, é provável, poderia se manter indefinidamente.

O que essas “etiquetas” conseguem fazer, entretanto, é ainda pior. Diminuem o raciocínio crítico em relação às atitudes em si do sujeito em questão e, principalmente, eliminam todo e qualquer debate sobre o “Populista”. As ações dele são, inexoravelmente, ruins e erradas.

Curiosamente, a primeira acepção da palavra no Houaiss é, simplesmente, “simpatia pelo povo”. O que, no fundo, todo e qualquer homem da República (do latim: “coisa pública”, do povo) e democrático (do grego: “poder do povo”) deveria ser. Ou seja, pelo menos na etimologia, todo político deveria ser Populista.

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