segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Jornalismo sensacional

Para que serve o jornalismo? Como eu não fiz aquele juramento na formatura, não sei qual é a resposta oficial, mas suspeito que tenha a ver com, unicamente, audiência, seja ela na vendagem de exemplares ou no número de espectadores.

Se não, vejamos um caso das semanas passadas, só para ficar num exemplo à mão: o assassinato do milionário da Mega-Sena. É uma ótima notícia. Contudo, analisando o fato de perto, resolver esse caso, noticiar a prisão da viúva, elucidar quem apertou o gatilho, descobrir que foi o mandante, conhecer todo o plano só serve para a família de Renné Senna, mais ninguém. Claro que interessa a todo mundo, daí ela ser uma ótima notícia. Mas, na prática, ninguém vai aprender a ganhar R$ 52 milhões na loteria, se proteger de atentados contra a vida, escolher melhor as namoradas. O fato é que acompanhamos o desenrolar das investigações como quem assiste a uma novela. Elegemos o vilão - ou a vilã -, e procuramos os mocinhos para torcer por.

Não entendam o parágrafo anterior como uma crítica aos costumes jornalísticos. Não sou ingênuo o suficiente para afirmar que a melhor notícia do dia deveria ser algo que influenciasse na vida de todos os cidadãos, como, sei lá, o movimento em Brasília. Isso até é notícia, mas é considerado chato - e é, realmente.

Nem quero falar sobre a "espetacularização do jornalismo", porque alguém já disse isso antes e eu não me lembro quem.

É algo mais pé no chão. Pensar no que é o jornalismo, hoje em dia. Para que serve. Acho que serve para vender jornal. Ou, em outras palavras, entreter. Aliás, exagerando um pouco a mão, sempre serviu, apenas o conceito de diversão era bem diferente do de agora. Provavelmente, a única regra ainda válida para o jornalismo e que, talvez, servirá para sempre é a de que notícia é quando o homem morde o cachorro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu, digo por mim, não aprendi muita coisa sobre jornalismo na faculdade. Além de não ter feito o juramento também, ficaram de fora Gonzo, Capote e tantos outros bons. Se eu soubesse que jornalismo era isso, não tinha me formado nisso. Agora já é tarde.

E não deveria ser somente uma questão aos jornalistas, mas a todos que consomem o jornalismo: pra que ele serve? Será que está fadado a enrolar peixe na feira?

Abs

contonocanto disse...

Bem, as faculdades de comunicação (eu fiz duas) são todas quase inúteis. Só não são completamente porque me deram um diploma que me arranjou um trabalho que paga as minhas contas. (Élio Gaspari diz que faculdades deveriam fornecer conhecimento; papelarias, diplomas)

Agora, pensar no jornalismo como algo que se propõe a ajudar o povo é quase uma piada...