sábado, 21 de abril de 2007

Histórias

Vi esta semana, com anos de atraso, "Big fish", numa versão dublada em espanhol*. O filme de Tim Burton é ótimo, divertidíssimo, mas não uma obra-prima. Aborda um tema que me é extremamente interessante e que pode ser resumido na idéia de "contar histórias".

De maneira geral, o filme mostra a briga entre um pai e seu filho porque o velho contaria muitas mentiras sobre a vida própria e a em comum. O tom é de fábula, ou melhor, de fantasia. O protagonista, o pai ainda jovem vivido por Ewan McGregor, é otimista, corajoso, romântico e extremamente sedutor. Ao relatar uma história, consegue a atenção das pessoas em sua volta. E, apesar de viver como um "simples" vendedor de quinquilharias, narra a sua trajetória como se fosse um herói.

Pausa para dizer que Borges - será que algum dia vou citar outra pessoa? - dizia que o conto, a estrutura narrativa curta, é o arcabouço literário por definição. Porque, desde que o hominídeo conseguiu grunhir e travar comunicação com outro sujeito parecido com ele, as pequenas histórias existem, sejam ficções, não-ficções ou qualquer outro nome que você possa / queira dar.

O argentino dizia que o conto sintetizava todas as outras formas narrativas. É possível resumir um romance em poucas palavras, por exemplo. Também é viável narrar / interpretar uma poesia, ou um filme, ou qualquer outro tipo de arte. Por isso ele - Borges - sugeria que os textos deveriam ter uma tradição oral - muito influenciado, claro, pelo fato de ele ter ficado cego muito novo.

Juntando as duas informações, pode-se perceber que a literatura sempre existirá como forma de contar uma história - ou a mesma história, para ficarmos em outra citação borgeana. E que o homem sempre vai se interessar em ouvi-las, lê-las, contá-las.

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* a internet tem dessas coisas. Me forneceu filmes como "The science of the sleep", do Gondry, e "Tristam Shandy", do Winterbottom, anos antes de alguma distribuidora acordar; e só uma versão dublada em espanhol do americaníssimo "Big Fish".

2 comentários:

Anônimo disse...

Se abrirmos o leque, perceba, a arte de uma forma geral se propõe a contar histórias. Exemplos: tapetes de tribos nômades, que demoram gerações para serem confeccionados e mostram tradições familiares; as primeiras tatuagens que se tem notícia, dos Maori e dos polinésios, que narravam os feitos de caça e guerra de cada indivíduo; a porcelana chinesa, com sua pintura extremamente técnica.

Ou seja, nem só a linguagem tratou de contar histórias. E isso é muito bom.

Abraço.

CNC disse...

Faz todo o sentido, Dudu. O seu comentário é totalmente pertinente. Talvez o homem só exista para contar a sua história - com agá maiúsculo e minúsculo ao mesmo tempo.

A forma e a maneira, cada um escolhe.

abraços