terça-feira, 1 de abril de 2008

Sociologia gastronômica

Já escrevi sobre minha teoria de que os pobres de cada cultura emplacam a comida típica da sua região / país. Como exemplo dou sempre os mesmos: a feijoada no Brasil, a paella de Valência e adjacências - uma espécie de feijoada sem feijão e com frutos do mar no lugar do porco - e o fondue, suíço, uma mistura de diversos queijos que, no inverno, haviam ficado duros demais para comer e que eram esquentados numa panela com vinho (mais informações aqui).

Mas a questão é que há outra interpretação sociológica para a gastronomia. Uma interpretação digna do epíteto "de botequim". Foi desenvolvida em parceria com um amigo meu, que fez a, digamos, introdução.

Como diria Luís Fernando Veríssimo, o mundo está nas escolhas. Entre abotoar a camisa de baixo para cima, ou inverso, se barbear de cima para baixo, ou o inverso, ou colocar o feijão em baixo ou em cima do arroz. Isso pode demonstrar mais do que sugere nossa vã filosofia.

Segundo o meu amigo, ao colocar por baixo o feijão, isso demonstra uma origem mais modesta do cidadão, que compactava a sua comida em dois grandes temas: o feijão-com-arroz e o resto. Assim, o arroz faria a separação entre o feijão e os demais ingredientes, não permitindo que o grão escuro e suculento manchasse a carne ou outros legumes.

Além do que, o feijão-com-arroz seria a base de tudo podendo variar na quantidade de acordo com sua fome - o que é o cargo chefe da teoria de meu amigo. Como é mais barato, a possibilidade de tê-lo em maior quantidade que a carne, por exemplo, teria criado esse hábito de se precaver.

Já quem coloca o feijão por cima do arroz, geralmente deixa a dupla num canto do prato, acrescentando o que tiver no restante do recipiente. A separação, portanto, é mais complexa e demonstra uma maior variedade de componentes. O feijão e arroz, aqui, é apenas mais um coadjuvante, em vez de uma espécie de exército de ocupação.

Outra teoria seria na forma de apresentação do feijão: mais ou menos grosso? Com muito ou pouco caldo? A conclusão desta é ainda mais simples. Os que preferem com mais caldo seriam das extrações populacionais com menos poder aquisitivo por motivos óbvios. Lembrai da música de Francisco Buarque de Hollanda. E o inverso seria verdadeiro, por motivos também explícitos.

Agora fica a dúvida: e quem gosta do feijão em cima do arroz e com pouco caldo? Ou o inverso? Ah, a classe média, sempre inclassificável.

3 comentários:

carol disse...

Eu gosto do feijão em cima do arroz e com pouco caldo! Me senti desnuda.

E eu sou a ex-coleguinha do italiano, Carol, lembra? Não a da PUC, a da ECO... enfim. De blog em blog, parei no seu. E amei a teoria do feijão.

Tudibão! :)

Mário Lyra disse...

muito bom!

CNC disse...

Ciao, Carol, va benne?

A teoria do feijão, como o nome diz, é apenas uma teoria. Vou fazer um "campo" para comprovar a tese.

:-)

e, obrigado pelo elogio, Mario.

baci e abraços

ronaldo