sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Estilo e sentido

Descobri, após alguma reflexão, que não sou um esteta da palavra. Não me importa o estilo do escritor. Acho frases belas bonitas, mas não é isso que me leva a ler um livro. Espero sentidos profundos, verdades escondidas, sentidos nunca antes pensados, máximas que abalam a estrutura do que eu imaginava como o centro do mundo. Espero propostas, não sofrimentos. Espero teses, morais, conclusões, ideias. Não precisa ser nada óbvio - e, por favor, não seja óbvio.

Por isso, o meu interesse pela filosofia. Ou por gente como Camus e Kafka. Eles entregam o que pensam na primeira linha. No restante, eles arrodeiam o assunto principal, e você vai matutando, mastigando essas informações de maneira melhor, observa os exemplos dados, e compreende toda a ideia.

Por isso, gosto da estrutura do conto tradicional, principalmente a idealizada pelo Piglia em suas teses. Há, sempre, duas histórias, a óbvia e a subentendida. Imagina qual é a que me interesso?

Não quer dizer que desgoste da literatura, não. Mas quero ter uma epifania ao ler um relato, não quero ler sobre a epifania do personagem.

Por isso, acho que "Crime e castigo" é melhor contado que lido - porque a tese defendida pelo Dostoievski é melhor que o seu estilo, na minha humilíssima opinião.

Era isso que queria deixar registrado.

5 comentários:

Anônimo disse...

e deixou.

;)

Juliana Vermelho Martins disse...

Oi Ronaldo,

Agora que acabou o livro, apareci por aqui.

Eu nunca tinha achado uma definição exata do que eu mesma procurava numa leitura.

Agora achei!

(Voltou para o blog abandonado? Boa notícia. Quer dizer que talvez um dia eu consiga fazer o mesmo...)

CNC disse...

Este blog, coitado, nunca esteve morto, mas nunca esteve vivo. Ele está no meio do caminho entre os dois sentidos.

Mas escreverei mais aqui, sabendo que há alguéns que me lê.

Bruna disse...

Olá, Ronaldo!
Eu acho que a Literatura não vive alheia ao estilo. Por isso, quando você fala que a tese defendida por Dostoievski é melhor que seu estilo, fica a impressão de que a Literatura, em si, fica um pouco de lado na sua consideração. E não estou te criticando. Acho até legal você admitir isso, muita gente talvez não faça o mesmo.
Por outro lado, fiquei surpresa quando você afirma que Kafka, por exemplo, entrega tudo o que ele pensa logo na primeira linha. Acredito que "Amerika", assim como os contos de "Um artista da fome", não têm esse tom direto. Pelo contrário, e recobrando uma afirmação de Camus, acho que Kakfa nos obriga à releitura também pelo motivo de não ser assim tão claro.
Enfim, são essas as minhas opiniões. me corrija se eu distorci algo que você tenha falado.
Um abraço!

CNC disse...

Hum... Você está certíssima. Ambos os textos - acho "Amerika" chatíssimo, mas "Artista da fome" uma obra-prima - mostram um lado diferente do Kafka. Estava me referindo, claro, ao "Metamorfose" e ao "Processo", que ele mostra a "trama" logo na primeira frase e depois só "toca jazz" sobre o tema.

Sobre a questão do Dosta, eu estava implicando com a literatura - com a linguagem, diria o Walter, aquele Benjamin. Ainda não estou exatamente convencido de sua importância (da linguagem em si) - mas estou a caminho de - acredito.

E também implico com o Dosta - porque acho que ele enrola muito no "Crime e castigo", que tem uma tese muito bem retrabalhada pelo Woody Allen, em pelo menos três filmes.

Mas eu aceito as críticas. Principalmente porque são bastante sensatas.

Beijos e volte sempre...