sexta-feira, 29 de outubro de 2010

'Tropa de elite' à americana?

Ele é um policial honesto em um corporação completamente corrupta. Vivido por um dos maiores atores de sua geração e inspirado em um personagem real, ele trabalha em uma cidade violenta, em que o jogo ilegal e o tráfico de drogas é comum. Os policiais pegam dinheiro das atividades ilícitas e quem está fora do esquema é mal visto pelos colegas. Sua companheira, não aguentando o destempero constante, o abandona. Ao fim do filme, um depoimento seu em uma comissão legislativa ajuda a acabar - ou pelo menos, desmontar algumas peças - do esquema, do "sistema".

As semelhanças entre "Serpico", clássico policial com tintas do blaxploitation, de Sidney Lumet, e o "Tropa de elite" acabam aí. Serpico é um novaiorquino, hippie típico dos anos 1960, filho de imigrantes italianos que integra a força policial porque é seu sonho de criança. Não há um uma tropa de incorruptos - como, por exemplo, havia em "Os intocáveis" - nem a estrutura da polícia americana é igual à brasileira. Além disso, no filme americano, quem tortura são os policiais corruptos, não toda a corporação - Serpico, inclusive, é contra a prática.


Mas é curioso ver como o problema da violência de uma cidade está intimamente ligada - ou coincidentemente ligada nesses dois lugares - a casos de corrupções do braço do estado na segurança pública. Em "Serpico" vemos uma Nova York degradada, suja, com discriminação racial, e uma exclusão dos pobres da decisão. Há até um diálogo em que um dos corruptos afirma que prende só os negros e pobres, liberando os italianos, porque eles teriam "palavra", cumpririam com as suas promessas.

Algum sociólogo vai saber responder com exatidão de onde nasce a criminalidade - mas suspeito que estatisticamente tem a ver com desigualdade social e pobreza exagerada. Em seguida, vem corrupção e violência, como um dilema tostines, de quem veio primeiro. É claro que na Suécia há criminalidade, violência e até corrupção, acrescentando ainda xenofobia e até elementos de eugenia, mas duvido que haja uma tropa de elite ou policiais que se destaquem dos demais apenas por serem corretos lá.

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