quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Caixa de ressonância

Um dia na Caixa Econômica maltrata os nervos até de um sueco acostumado a não se melindrar por coisas mundanas. Ontem foi a minha vez de passar pelo teste de bunda-quadradismo. Ao chegar, preparado para uma maratona de cadeiras, encontrei logo de cara uma novidade. Um coroa, sem camisa, descalço e cercado de diversas pessoas que diziam frases entrecortadas, mas que eu consegui entender apenas algo como "larga de mão, senão você perde a razão". Supus erroneamente que tinha a  ver com as portas giratórias, mais uma maravilha dos bancos modernos.

Quando eu passei por este obstáculo, percebi ao lado dos seguranças um garoto de 20 e muitos, 30 e poucos, mas não reparei muito nele. Em seguida, o cara sai do banco e tampa na porrada com o véio, que virou bola de futebol. Só não tomou um prejuízo maior porque a turba o envolveu e fez o trabalho do deixa-disso.

[No momento em que escrevia essa parte, chega uma mulher com uma criança de colo - o horror dos horrores.]

Na fila, sentado, imaginei / lembrei do tratamento bancário da Baixada na década de 1980. Lembro que havia uma agência do Bradesco, que funcionava num subterrâneo, e era chamada de "Inferno" por seus correntistas ou quem fosse lá. Apropriado.

Enquanto espero o primeiro atendimento de muitos [foram cinco, ao todo], ajudo um coroa que via sua senha pelo lado errado e recebo, em seu lugar, um espécime da Velhinhas de bancus, cujo comportamento principal é falar sobre qualquer assunto com qualquer pessoa. Ela é do mesmo gênero [Velhinhas] da Velhinhas de supermercadus e da Velhinhas da fila do INSS e adoram aglomeração de gente.

Após uma hora na primeira fila e descobrir que não precisava ficar ali, vou para a segunda parte do dramalhão mexicano. De longe, escuto uma mulher reclamando sobre a dificuldade de ser atendida e de como ela tinha que faltar ao trabalho para ir ao banco e de como ela passava fome para conseguir ir à agência, até que, num crescendo, ela chora.

Na segunda fila, encontro novamente a Velhinhas de bancus, que queria abrir uma poupança, mas - adivinhem - o sistema estava fora do ar. Então, ela decide depositar o dinheiro na conta corrente. Dinheiro, não. Moedas. Se alguém me contasse isso, não acreditaria. Ela trouxe R$ 227 em mo-e-das.

Enquanto isso, faltavam dois números para me atender. Mas a mãe-com-criança-de-colo fura a fila descaradamente. Na minha vez, vou do caixa para o gerente [espero], volto para o caixa [espero], volto para o gerente [espero, mas pouco, verdade] e, por último, caixa novamente [não espero.]

Um sindicalista dos bancários entra distribuindo o jornal da categoria com uma camisa dizendo que o cliente fica em primeiro lugar. Não quero conhecer o último lugar. Todas as vezes que tenho que ir lá descubro que caixa só é econômica no número de funcionários.

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