terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Direita aparente

"Os militares só conseguem manter a hierarquia e a disciplina porque a verdade está para eles como a fé está para os cristãos". Assim começa o artigo de Jair Bolsonaro na "Folha" de hoje, intitulado "Comissão da inverdade", que trata, como pode se imaginar, da Comissão da verdade, a ser instituída pela presidenta e que tem como função avaliar a ditadura de 1964-1985 e escrever a versão oficial do período [se eu entendi bem a história, o que eu duvido].

Ele chama os "companheiros em armas" de terroristas e enumera alguns crimes cometidos pelos militantes durante a ditadura, afirmando que os militares, por sua vez, representavam a sociedade, ao tomar o poder. Para comprovar, cita: "É notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo completamente o papel dos militares que, em 1964, por exigência da imprensa, da Igreja Católica, de empresários, de agricultores e de mulheres nas ruas intervieram para que nosso país não se transformasse, à época, em mais um satélite da União Soviética". [Grifos são meus.]

Ontem, o mesmo Bolsonaro escreveu um artigo ["Equívoco em campanha"] para "O Globo" em que critica a postura da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados que quer distribuir um panfleto nas escolas para combater a homofobia. Ele repele o panfleto dizendo [duas vezes] que é um incentivo ao homossexualismo, e que mostra que ser gay, "além de legal, é motivo de orgulho para a família". [Acrescente aqui a sua ironia preferida, por favor.]

Não estou aqui para defender suas posições - por favor, não. Mas tirando o fato de dois jornais darem espaço a ele em sequência - que pode ser apenas uma coincidência, claro - eu acho até saudável que os homens da direita coerente se apresentem assim. É mais fácil desarmar os argumentos clássicos - da tradição-família-propriedade, ou da Igreja, ou da moral e dos bons costumes, ou dos integralistas - que escutar um falso-progressista que, ao se pronunciar, sempre tende a ficar em cima do muro, mas, na verdade, quer apenas defender todas essas questões aí em cima citadas.

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