quarta-feira, 2 de março de 2011

O filme de Banksy

"Exit through the gift shop" ficou conhecido como o filme do Banksy. Mas o artista-famoso[também]por-não-mostrar-o-rosto não é o personagem principal desse... hum... documentário. É  o diretor. O próprio Banksy [ou quem se apresenta como Banksy, sabe-se-lá] fala, logo no início, que aquele era um filme sobre o homem que queria fazer um filme sobre ele: um francês morador de L.A. chamado Thierry Guetta, que grava tudo o que vê pela frente com suas câmeras de vídeo.

Por acaso, ou obra do destino, esse moço é primo do Space Invader, um outro artista, que também mantém seu nome de verdade em segredo, e que ficou famoso por colar adesivos e outros objetos no formato do famoso joguinho de Atari. Thierry começou a documentar o trabalho do primo e de outros artistas da chamada "street art".

Antes de progredir, acho interessante analisar - no sentido clássico - o que seria essa "street art". Com o fim dos museus como instrumentos de legitimização da arte, com a quebra da hierarquização do poder da arte, com a descoberta de outros sentidos e significados proporcionados pela própria arte, vítima - ou resultante - das vanguardas no início do século XX, alguns artistas decidiram escolher as paredes e os muros da cidade como suas telas para, utilizando de materiais como stencils, cartazes, grafites e outros elementos gráficos, estampar suas criações. Banksy é, provavelmente, o nome mais conhecido desse movimento. Suas obras desconstroem cenas clássicas do cotidiano, com uma crítica ácida e alta dose de ironia inglesa, e as retrabalham de maneira a, mesmo contra a vontade do espectador, criar novos mundos e novas formas de interpretação. Melhor que descrever, é ver.

Voltando ao doc. Thierry - sempre apresentado como um fulano no máximo esforçado - documenta todos os grandes expoentes dessa geração até chegar, por acaso, ou obra do destino, a Banksy. Em seguida - e resumindo toda a trama - ele é incentivado a, finalmente, montar um filme que mostre o que se está fazendo pelas ruas do mundo. Ele volta e, com um caminhão imenso de material, produz um filme que é classificado como horrível [admito que fiquei curioso]. O artista anônimo inglês incentiva, então, Thierry, a tentar outra coisa na vida, sabe-se lá. Ser artista de rua, por exemplo. Thierry, que estava perdido na vida, aceita. E se transforma em Mr. Brainwash.

E é nessa hora o melhor momento do filme. Essa nova persona sabe como todos os artistas se comportam, sabe o que tem que fazer, como chocar, quais obras, onde colocar, como se promover... Mas falta algo [talento? inteligência? malandragem?]. Ele contrata um grupo de designers para auxiliá-lo na feitura de suas obras, argumentando que se até Damien Hirst, o nome que mais se valoriza no cenário das artes atualmente, faz isso, por que ele não pode usar desse processo? Como não é de surpreender, Mr. Brainwash faz sucesso, apesar da expectativa em contrário, e hoje ilustra até CD da Madonna.

Como uma boa obra, o documentário deixa mais perguntas que repostas. Mr. Brainwash representa o que é feito na arte hoje em dia? O que falta a ele, que sobra nos outros? Para fazer uma obra de arte pode-se dispensar o trabalho manual do artista, deixando-o apenas como o responsável pela parte intelectual? Qualquer um pode produzir arte? Aliás, o que Mr. Brainwash produz... é arte?

Não sei responder nada com certeza. Apenas especularia. Talvez outro dia. Certo é que esse documentário é indispensável para se pensar o nosso momento histórico.

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