domingo, 18 de setembro de 2011

Funk londrino

Aconteceu. Estava demorando. Estava achando algo estranho. Já estava há uma semana aqui em Londres e não tinha esbarrado com nenhuma banda tipo incrível. Foi totalmente sem querer, como acontece com as melhores coisas, ou com as coisas que mais te surpreendem. [Porque expectativa influencia diretamente na primeira relação com os objetos, sejam artísticos ou não, já que você não criou nenhuma imagem mental e eles são apresentados como "novidades", nesse sentido de surpresa.] Andávamos por Camden, num dia frio e chuvoso, em que tive que, inclusive, comprar um casaco, para aguentar o tranco, e descobrimos a feirinha do bairro.

À rua, parece o calçadão de Madureira, ou de Nova Iguaçu. As barraquinhas parecem com as da Uruguaiana, com a diferença que você encontra comida de vários lugares do mundo - inclusive os onipresentes churros brasileiros - é a mesma barraquinha que vai andando de feira em feira. São vários mercadinhos, com diversos perfis - antiguidades, comidas, apetrechos, cacarecos, roupas de diversos segmentos, lps e música. Mas achei curioso que não tivesse um lugar para escutar música. De qualquer forma, fomos andando aleatoriamente, que é uma das melhores maneiras de se passear, até que ouvimos uma música extremamente suingada vinda de um lugar razoavelmente distante. Fomos atrás, tal qual personagens famintos de desenhos animados quando encontram um comida saborosa.

Chegamos lá - e lá era um lugar chamado Proud Camden, que aliás vai ter um show hoje, domingo, chamado Brazil Tune, com um cantor de São Paulo chamado Dani Turcheto... alguém conhece? - e uma banda estava destruindo tudo num palco pequeno, quase amador, com uma plateia ínfima, mas fiel, sentada em sofás confortáveis e bancos de madeira. Eram o Ma'Grass.

Mr. Right - Ma'Grass by Ma' Grass Band

Nessa página do Soundcloud, que o vocalista, baixista e líder da banda, Matteo Grassi, divulgou várias vezes, dá para ouvir quatro músicas do grupo e perceber todo o ácido do funk. Mas eles não são só funk - o que para mim já seria ótimo -, há jazz em abundância e pitadas de reggae e de african beats - eles dizem também que são influenciados pela música latina, mas apesar de apresentar como músico convidado um moço cujo nome é Oswaldo Santos, acho que eles têm mais tendência à salsa que a alguma coisa brasileira.

O Ma'Grass - corruptela do nome do líder, que, nitidamente tem parentesco italiano e deixa isso claro em músicas como "Liberi" - é como se Stevie Wonder estivesse ainda vivo e ligado no 220 volts - aliás, a voltagem de Londres. É como se toda a geração funkie dos anos 1970 desse uma repaginada nas suas músicas e ficasse muito mais... funkie. Saca o The Commitments? Melhor.

O baterista Jules Weishaupt toma conta direitinho da cozinha, junto com Matteo, que tem a ajuda do guitarrista Antoine Valy, para deixar livre os teclados de Jan Blumentrath e , ontem, o trompete de um sujeito cujo nome não é fornecido na página deles, além de um saxofonista que falou sobre uma noite jazz às terças-feiras, num lugar chamado The Silver Bullet, em Finsbury Park, que é recepcionada pelo quarteto do Bukky Leo [afrojazz].

Sempre achei que o melhor da música feita em Londres não era o rock, nem mesmo o punk, apesar de eu ter sido criado na melhor da tradição dos três acordes. Mas nessa mistureba de sons que sempre dão em boas coisas - vide toda a música brasileira. Sou mais o "Sandinista" que "London Calling", por exemplo. E mesmo que se fale num renascimento em Londres da música folk, com pitadas de bluegrass e country, com bandas como Mumford & sons, tenho mais tendência a gostar dessas músicas em que a cintura não consegue ficar parada - mesmo para durões como eu.

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