sábado, 10 de setembro de 2011

Trinta e dois


Primeiro dia – 08/09/2011 – quinta-feira, aeroporto do Rio de Janeiro

Trinta e dois deve ser um dos números mágicos da cabala. Além de ser a junção do algarismo “3” – que remete à santíssima trindade que rege os que seguem a sagrada escritura – e do “2” – do par, do casal, da coincidência – e de ser a idade conhecida pela mesma escritura em que Cristo morreu na cruz , é também o peso limite para as malas em voos internacionais.

Se você for um reles mortal [ o/ ], você pode levar até duas malas com essa massa cada [um amigo físico implica com o termo “peso” para determinar... o peso] mas não pode transportar uma única de 42 quilos. Adivinha qual era o meu caso.

[Nunca imaginei que um dia pudesse ultrapassar o limite e nunca me imaginei abrindo aquela mala imensa no meio do aeroporto para fazer uma reengenharia. Tipo: saca a cueca e mete o sapato chulezento. Ou tira a roupa suja e atocha ao lado do terno de casamento. Sempre tinha visto outras pessoas fazendo isso e pensava: “há! Deu mole.”]

O argumento da companhia aérea é: “’A Europa’ não aceita além desse peso.” [Imagine como os ingleses se sentiriam feridos em seus egos se soubessem que estão sendo chamados de europeus...] “A Europa”, milênios após a popularidade do personagem mitológico grego, voltou a ganhar uma personificação. Voltou a ser sujeita de si.

A ameaça – me contou a simpática atendente – é de a bagagem se perder. Ela – “A Europa” – só receberiam bagagens de até 32 quilos. Após isso, não*. Devem colocar num cemitérios de malas abarrotadas e, depois, exportam para países subdesenvolvidos junto com o lixo atômico. Tenho certeza disso.

De qualquer forma, pelo blefe ou pelo aviso, considerei que era melhor não me arriscar. Principalmente quando o que está em jogo é toda a roupa da sua vida [agora eu sei o peso que eu carregava nas costas...]. Abri as malas [“Há! Deu mole”] e tasquei livros, sapatos e outras quinquilharias em uma outra bolsa onde carregava eletrônicos e afins. Na mala-imensa ficou só roupas. E três garrafas de cachaça que, agora, sem tantas peças a pressioná-las, poderão sambar, evoluir na passarela aeronáutica, até que uma delas, mais saidinha, certamente se esparramará calmamente sobre calças, casacos, camisas, shorts... Em uma tacada, posso ficar sem eletrônicos – que, claro, serão chutados pelos moços nem tão simpáticos da companhia aérea –, sem presentes e sem minhas roupas. E, claro, minha bagagem reserva viajou – está viajando, vai viajar, dependendo de quando for a leitura – sem cadeado. Tudo bem, vou estar na Europa.

* Conversando com um amigo-de-voo, que fez seu mestrado em direito em Londres, ele sugeriu sem muita certeza que a questão envolveria legislação: os trabalhadores das companhias não podem, por lei, carregar mais que esse peso.

ps. tudo chegou inteiro. Menos a rodinha da mala de rodinha, que quebrou. Claro.

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