quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Esportes ingleses

É curiosa a afeição que os ingleses têm por esportes. Em geral. Parece com a de americanos, mas é mais. Sem comparação com os brasileiros, que são monotemáticos quando esse é o assunto. Aqui, dá para saber o perfil da pessoa, ou pelo menos construir o primeiro elemento de entendimento social, se descobrimos qual é o seu esporte favorito ou, no caso do futebol, por que time torce. Chelsea, por exemplo, é time dos ricos. Críquete, esporte dos riquíssimos.

Curiosamente, em relação ao críquete, os indianos, e vários países pobres de colonização inglesa, tipo Quênia, são igualmente fanáticos pelo esporte. Como se fosse uma pequena ironia do destino do esporte que era dedicado à nobreza na Inglaterra ter que receber africanos, caribenhos [que competem unidos como "Índias ocidentais"] ou indianos e paquistaneses [quando duelam, é tipo Argentina x Brasil no futebol, mas com armas nucleares de cada lado] em seus campos. Aliás, há um belo e longo filme indiano chamado "Lagaan" [é muito curioso nós brasileiros não termos ideia desse filme que é mais que um clássico indiano, é uma instituição do povo do subcontinente, como é, por exemplo "Aquarela do Brasil" para esse outro país continental] em que se fantasia o início do críquete na Índia, como se fosse um disputa territorial, entre opressores e oprimidos. Os oprimidos se unem em torno do esporte, esquecendo suas enormes diferenças - é só lembrar que a Índia tem cerca de 30 línguas que são faladas por, no mínimo, mais de um milhão de pessoas; e que há hindus, muçulmanos, sikhs e outras religiões. Não é preciso dizer quem ganha a partida.



A metáfora de guerra e união dos povos pelo esporte me apareceu ontem, no texto de um colunista que falava sobre a Haka, a dança tradicional que o All Blacks - o time de rúgbi da Nova Zelândia - executa antes de participar dos jogos. A dança é feita pelos maoris, o povo que habitava as duas ilhas ao sul da Austrália antes da chegada dos ingleses, que a executavam antes de batalhas, e cuja intenção é mascarar seus medos e passá-lo para o adversário, além de atingir, mesmo que como metáfora, a imortalidade, ou pelo menos o sentimento de invencibilidade. Eu lia o texto do Henry Swarbrick, e me arrepiava no meio do metrô lotado de saída de trabalho. É exatamente nisso que eu acredito ser o melhor do esporte, e o melhor da música, do cinema, da vida, enfim. Fazer as ações como se estivesse tirando a última força de dentro de si. Como se fosse a única verdade a se descobrir. Como se possuísse alma, tivesse punch, fosse "tru", nas palavras do .

Além disso, a dança é executada por todo o time, seja branco-filho-de-europeu-emigrante ou moreno-neto-de-polinésio, demonstrando que, ao menos dentro do campo, eles têm apenas um único corpo, o da Nova Zelândia. O que demonstra como o esporte, novamente, pode ser um sinônimo de agregação entre culturas e que, se não podemos voltar ao passado e mudar o que aconteceu, podemos aprender com essa história.

ps. Os All Blacks jogam no sábado contra o time da Austrália por um lugar na final do campeonato mundial de rúgbi - a outra semi é disputada no domingo entre França e País de Gales. Nem preciso dizer por quem estou torcendo.

pps. E falando de esporte nascido inglês que vai para o mundo e representa a união de culturas, o que dizer do futebol, e do futebol no Brasil?

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