domingo, 18 de dezembro de 2011

Conto de fada tailandês


Em vez de fazer comentários esparsos, vou fazer diferente. Vou contar uma história, uma história que eu vi em um filme tailandês, bem ilustrativa. Um conto de fadas que começa com “Era uma vez...”.

Era uma vez... um caçador que, noite após noite, é acordado em sua cabana, no meio de um sonho, o mesmo sonho, um sonho em que ele está na floresta atrás de um fantasma, um fantasma que devora as suas caças e que não deixa nada para ele caçar quando acorda. O fantasma bate à janela sobre sua cama, derruba frutos sobre o telhado, faz barulhos à porta, tenta de todas as maneiras que ele não durma. O caçador, depois de dias com dificuldade para adormecer, resolveu matar o fantasma. Pegou sua arma e foi para a floresta caçar essa diferente caça.

Mas como achar um fantasma, ele se perguntou apreensivo? Tentou procurar pegadas, mas percebeu que fantasma pode ter qualquer tipo de pegada, já que ele assumia as formas de todos os animais possíveis. Tentou escutar os seus sons, mas a floresta encobria qualquer barulho do fantasma. Apelou para os animais, perguntando-os onde estava o fantasma que ele queria caçar para poder dormir novamente, mas os animais se recusaram a contar-lhe – ele era um caçador, ora!

O caçador, então, decidiu deixar de dormir. Ficou na floresta sem voltar para sua cabana. Subiu em uma árvore bem alta e tentou observar todo o movimento da floresta. Ele imaginou que logo iria encontrar o fantasma e, aí, poderia atirar nele e, finalmente, voltar para sua cabana e descansar. Ele percebia os macacos pulando pelos cipós e lhes perguntava se tinham visto o fantasma, e os macacos o ignoravam. Ele tentava conversar com a cobra, mas a cobra avisava que não tinha qualquer informação, e se tivesse, não lhe passaria. Ele continuava de tocaia, com a arma envolta nos braços, pronto para atirar, caso avistasse o fantasma. Ele queria dormir, novamente, sem qualquer problema.

Depois de diversas noites em claro e sem qualquer sinal do fantasma – que era bastante inteligente e conseguia se esconder do caçador –, ele acabou caindo no sono e sonhando. Sonhou que consegue achar a trilha do fantasma e está logo atrás dele, pronto para matá-lo e assim se libertar, e poder voltar para a cabana e dormir em paz. Ele escuta as folhas se mexendo logo à sua frente e corre na mesma direção. Sabe que o fantasma não pode estar longe. Ele já sente a presença do fantasma. O fantasma não é tão rápido como ele imaginava, é possível alcançá-lo, está logo ali à frente. O caçador vai encontrá-lo, em instantes – ele acredita – ele vai encontrá-lo. Basta ser mais ágil, e estar pronto para agir ao menor sinal do fantasma, porque o fantasma pode desaparecer de uma hora para outra. Ele não pode pensar, tem que ser automático, instantâneo. Ao avistar o fantasma, deve atirar. Deixa a arma já engatilhada. Quando tiver o menor sinal do fantasma, aperta o gatilho. Assim, imediatamente. Falta pouco. Dá para sentir. Falta pouco. Aperta o passo, correndo como uma lebre pelas folhas. Os galhos estão se mexendo cada vez mais, o fantasma está perto, ele sabe que está se aproximando, ele sabe. Tem que ficar pronto, não pode pensar muito, tem que ser instantâneo. Ver o fantasma e apertar o gatilho, não pode deixar o fantasma escapar, ele quer voltar para a cabana, ele quer dormir! Falta pouco. As folhas, os galhos estão balançando cada vez mais forte. É agora! Ele vê o vulto do fantasma: é agora! Está sobre uma árvore: é agora! Se prepara, aponta, e atira.

Acorda o caçador, acorda com uma ferida na barriga, de um tiro. Olha para frente e não entende muito bem. Está zonzo, confuso. Ele se vê. É ele mesmo, o próprio caçador, olhando para si próprio, abaixando a arma, que ainda saía a fumaça do tiro, satisfeito com o tiro certeiro que dera, enquanto ele sangra, até que cai da árvore, morto.

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