sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Intertextualidade já no século xvii

Às vezes eu penso que nós não inventamos nada. Outras vezes, eu tenho certeza. Nos últimos [o quê? Vinte, 30?] anos se fala sobre a questão do remix, agora chegando à literatura. Discute-se os conceitos de originalidade, de plágio, de criação artística, entre outros assuntos que parecem tão atuais. Não são.

"The anatomy of Melancholy", o monumental livro de Robert Burton, já fazia o que nós tão-modernos costumamos chamar de intertextualidade, no século xvii. No início do século xvii.

Toda a obra em suas mais de mil páginas [!] é seguida de mais de 200 páginas só de notas [!!] e mais de 6 mil citações de diversas fontes [!!!], enquanto Burton, na pele de Democritus Junior, que já é uma piada com a questão da autoria, ao citar o filósofo Demócrito ["I am a free man born, and may choose whether I
will tell; who can compel me?"], continua a escrever o seu livro. Democritus Junior se utiliza das citações, a maioria em latim, a língua dos entendidos da época, para ilustrar o que está dizendo, para fazer uma piada com a erudição excessiva, para demonstrar que o que ele está dizendo não é novo.

Seu tema principal? Melancolia. Não somos originais. Nem nunca fomos.

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