domingo, 6 de maio de 2012

'Wit' e o inglês

Uma das características mais marcantes que eu já mencionei [ou deveria ter mencionado] sobre o inglês é a sua habilidade com as palavras. Talvez esteja sofrendo da síndrome daqueles que descobrem que não sabem nada de uma língua que se julgava dominada e ficam admirados com as possibilidades de flexionar um idioma que é aparentemente simples, e pode ser utilizado com um gama pequena de palavras. Mas, mesmo nessas circunstâncias, há uma característica constante, independente da complexidade do discurso, e que tem um palavra bastante utilizada aqui em textos e conversas para exemplificá-la, e que sua tradução, como poderia ser óbvio, não transparece todo o seu significado: wit.

"Perspicácia" não é a mesma coisa. Em primeiro lugar, porque não usamos "perspicácia" com a frequência que eles usam. Para eles, "wit" é algo corriqueiro, para nós, "perspicácia" é uma palavra que quase exige um esforço para ser falada, seja pela sua estranheza, pela junção desse "r" com o "s", tão incomum, seja porque não usamos essa característica com a mesma regularidade. De toda forma, os ingleses parecem ter o dom da palavra, ou, ao menos, "wit" o suficiente para se expressar com inteligência e rapidez, ou complexidade e profundidade, nas suas conversas mais triviais.

Claro que nem todos os ingleses têm essa "presença de espírito" [uma outra possibilidade de tradução], muito menos são tão irônicos [uma das principais caraterísticas do "wit"] a todo momento. Mas é um traço da identidade inglesa, assim como, sei lá, a extrema facilidade de comunicação dos brasileiros. Nem quer dizer que outras pessoas não-inglesas não possam ter essa característica. Me lembro bem de um menino que nadou comigo há muitos anos chamado Alberto que sempre tinha a frase final de todas as conversas. Sempre inteligente, sempre definidora, sempre seguida de gargalhadas - dos que o entendiam. Geralmente ele ficava quieto, escutando enquanto nós falávamos todos os absurdos do mundo, e vinha, ao fim, soltar sua frase-torpedo que afundava nossa conversa-transatlântica.

Saber falar inglês é mais que aprender as palavras, a gramática, criar frases e responder "yes, please" ou "no, thank you" a todas perguntas. É estar consciente de uma série de códigos culturais que não se aprende em escolas fechadas, mas conversando, cometendo erros infantis [para eles], passando por algumas vergonhas. É saber que a língua esteja incorporada, de uma maneira automática, e, principalmente, com "sagacidade".

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