sábado, 29 de setembro de 2012

À espera

Parecia que Londres não queria que eu fosse embora. Primeiro tentou me convencer a ficar com noites animadas, encontros felizes com amigos. Depois, programas que adoramos se repetindo perfeitamente. Por fim, um crepúsculo que só essa cidade sabe produzir. Como se o tempo parasse, como se houvesse um degradê no céu. Como se o sol se deitasse tão vagarosamente que quase se esquecesse que deveria ir embora. Um pôr do sol único, raro, que só acontece quando o céu está limpo, o dia, ensolarado, e a temperatura, agradável.

Quando Londres viu que essa tática da sedução não iria dar certo, tentou outra mais arisca, como uma mulher vingativa que sente que vai ser trocada.

Primeiro, multiplicou nossas malas. A bagagem se reproduziu sem qualquer aviso ou gestação. Quando não brotavam mais malas, elas engordavam. Cresciam de peso, tornando o transporte quase impraticável. O taxista, um imigrante africano que falava um inglês ainda pior que o meu, reclamou, claro: "it's overloaded". Estava mesmo. Estávamos levando um ano de souvenirs - não à toa, "lembranças" em francês. Era um pedaço da nossa vida que tínhamos empacotado para viagem.

Por fim - e até agora - Londres deu o seu golpe final: me isolou, me fez passar uma noite em claro, pensando nela. Me deu um café, essa nova tradição pessoal minha, e me fez escrever sobre ela. Mostrar o quanto ela foi e quanto ela sempre será importante para mim.

 Agora, com o meu destino razoavelmente traçado, eu posso dizer que eu até conseguirei me desvincular dessa maldição. Mas, para o resto da minha vida, ela vai ter um destaque na minha prateleira de cidade favorita.

Um comentário:

Clarissa Vasconcellos disse...

Bonito, Ronaldo. A partida é sempre durinha, por mais calorosa que seja a chegada que te espera. Me lembrou um post que fiz quando estava preparando a mudança para o Brasil:

http://unavelaparabalzac.wordpress.com/2010/11/01/a-folha-em-branco/

Bjs e bom retorno!

Clarissa