domingo, 21 de outubro de 2012

Brian Eno - OiR, Lapa

Muita gente que parece ser fã do Roxy Music [muita gente é um exagero, mas a maioria da minoria]. Gringos. Gente com câmeras. Todos desconfortavelmente. Alguns sentamos no chão, ao lado das caixas de som - que faziam um círculo à Stonehenge. Outros ficaram em pé, mesmo. A coluna, em ambos os casos, sofreu. Era antes do show, show no sentido mais amplo que a palavra pode ter.

Do lado de fora, um garoto joga bola, sozinho, com uma garrafa de plástico de cachaça. Em certo momento, um dos gringos, puxando um carrinho com, aparentemente, equipamentos de música, chuta a "bola". Será Brian Eno?

Logo em seguida, chegam bancos. Vão para o meio do círculo. Fico na primeira fileira. Começa pontualissimamente no horário. Não é legal ficar na primeira fileira, você aparece em todas as fotos tiradas da plateia.



Parece Angelo Badalamenti. "Duna". Se misturou com o som do alredor - avião, circo, bateria, flash, foto, foto, foto. Parece Brian Eno.

Imagens com texturas, como aliás, a música dele. Encaixe perfeito entre som e imagem. Contemplação.

Pessoas desistindo, falando ao telefone. "Nada acontece". Tirando fotos. Trilha sonora para um filme sem roteiro, sem atores, sem proposta além da pura imagem e do som.

Uma proposta includente, que adiciona o que quem quiser adicionar. Um garoto passa brincando de dançar balé. Um rapaz reclamando da foto dele. Tira outra. As imagens se agarram à paisagem, grudam organicamente. A música ocupa os espaços sonoros, transforma o ruído, ordena o barulho.

Várias cores cítricas, elementos de figuração, como bonequinhos ou círculos. Explosões. Remete ao primitivismo, mas numa versão do século XXI. Temas que se repetem.

Em certo momento, é possível duvidar que os arcos já tenham sido brancos. Ocupação do espaço público. Gente falando: "Não tá mudando". Outro "Não vejo mudar". Fez-se a mágica.

É algo que não é utilitário, não serve para nada, apenas é.

Mensagens chegando, fotos diminuindo de quantidade. Uma mulher se abraça a uma pilastra dos arcos, posando. Citações à década de 1980 nas imagens. A onda, agora, é posar às pilastras.

Um cara começa a vender cerveja no meio do círculo. Um helicóptero. O barulho quase abafa por completo a música, que consegue, ainda assim, se sobressair. Brian Eno toca ou é uma base gravada?

Não existe fim assim como não houve começo.

[Mais sobre o projeto "77 milhões de pinturas, do artista Brian Eno, que acontece hoje novamente na Lapa, aqui.]

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