quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Joyce e Nietzsche

Ainda no primeiro capítulo de "Ulysses", que ficou apelidado de "Telemachus" pela sua correspondência com a "Odisseia", há algumas citações a Nietzsche. Curiosamente. Porque não há [para os leigos, entre os quais me incluo] uma ligação direta entre Joyce e o pensador alemão. Geralmente associam o escritor irlandês a Vico, e só.

Uma das citações é curiosa exatamente porque reproduz um raciocínio comum no início do século XX, quando a obra foi escrita, e muito em voga ainda hoje, por conta, acredito, da ligação da irmã de Nietzsche com o nazismo. A de que Nietzsche queria propor que os "super-homens" se aproveitassem dos "homens-demasiadamente-humanos". O que, na minha interpretação, nunca foi verdade.

Stephen Dedalus, alter ego de Joyce, entretanto, é dos que, aparentemente, não viam essa relação entre dominantes e dominados. Quando Buck Mulligan, seu "amigo", rico, com quem divide a casa nas Martello towers, pede a ele "twopence [...] for a pint", como se o explorasse, Dedalus responde cheio de humor, cheio de wit com uma frase, e duas paráfrases:

" - He who stealeth from the poor lendeth to the Lord - Thus spake Zarathustra" [na minha edição eletrônica, página 18].

As Martello Towers realmente existem, como,
aliás, várias outras partes citadas no livro

[A primeira paráfrase é a citação à passagem bíblica dos Provérbios, 19:17: "He that hath pity upon the poor lendeth unto the Lord", que pode ser traduzida como "Aquele que tem pena do pobre empresta ao Senhor"; e a segunda, a obra mais conhecida de Nietzsche.]

***

Comecei a ler "Ulysses". A partir de agora, vou tentar postar textos sobre a obra para registrar a tentativa de completar essa... odisseia. Estou contando com o apoio de dois livros, além do dicionário de inglês do próprio leitor-digital: o glossário-enciclopédico "Ulysses annotated - notes from James Joyce's Ulysses", de Don Gifford, com Robert J. Seidman; e, como o nome indica, o guia "The new Bloomsday book - a guide through Ulysses", de Harry Blamires. Essa combinação de fontes me faz crer que esse formato poderia ser o ensinado às "novas gerações leem". É mais horizontal, correlacional, ligado, se utilizando de diversos livros e fontes ao mesmo tempo, além de fazer anotações, marcando as passagens que mais interessam.

Espero, com isso, não afugentar os meus dois únicos leitores.

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