terça-feira, 20 de novembro de 2012

O modelo privado no transporte coletivo

A experiência concreta que tantas pesquisas já examinaram não cessa de desmentir a aposta na eficiência do mercado e seus imperativos quando se trata de fornecer um serviço, mesmo que seja preciso considerar aspectos específicos de cada caso. Em minha pesquisa sobre as viagens de ônibus constatei, por exemplo, um esquema muito apertado em que o rodoviário tem que se inserir, relacionado à produção do lucro — exigência de um mínimo de passagens vendidas, eliminação das pausas para descanso, não pagamento de hora extra etc. Há também as condições do próprio veículo — com motor dianteiro e manutenção tantas vezes precária — que oferece um ambiente inóspito para o rodoviário e para o passageiro, mesmo que eles consigam muitas vezes animar as viagens, desenvolvendo uma espécie de humor na adversidade. Os Estados Unidos oferecem, surpreendentemente, um exemplo de gestão pública do transporte coletivo municipal em geral bem sucedido, apesar da limitação de muitos sistemas nesse país em que predominam as cidades dependentes do automóvel. Nova York tem o maior e mais eficiente sistema público do país e que se destaca entre os melhores do mundo. Apenas alguns serviços de barca continuam em regime de gestão privada, sendo que as poucas linhas de ônibus concedidas foram encampadas pelo Estado nos primeiros anos deste século.
 - Janice Caiafa, antropóloga, professora da Escola de Comunicação da UFRJ e autora de “Jornadas urbanas: exclusão, trabalho e subjetividade nas viagens de ônibus na cidade do Rio de Janeiro” (FGV Editora) e do inédito “Trilhos da cidade: viajar no metrô do Rio de Janeiro”, a ser publicado em breve pela 7Letras, em entrevista para o "Prosa".

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