quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O preenchimento do vazio de cada um - parte 1

When a society ends up with a chronic drinking problem its causes can usually be traced back to massive social upheaval coupled with a new injection of booze. - Pete Brown, "A man walks into a pub".
Todos os dias, vemos as reportagens nos jornais sobre os viciados em crack, que se locomovem pela cidade constantemente na tentativa de manterem o vício. Ora eles são acuados pelos órgãos oficiais, como a polícia ou as assistências sociais, ora pelos próprios traficantes, que sabem que os "cracudos" atraem muita publicidade. Também somos inundados com gráficos de como o crack pode causar problemas de saúde grave. Somos assustados / informados que, ao perderem a noção da realidade, os usuários de crack usam de todo e qualquer recurso para conseguirem o dinheiro para comprar a próxima pedra. Vemos ainda a recusa de diversos viciados de seguirem um tratamento nas clínicas especializadas, e a discussão sobre a internação compulsória para adultos. Enfim, vemos uma série de problemas em sequência que parecem não ter qualquer solução, por um simples motivo: os viciados não querem largar o vício.

Nem traficantes querem o viciado de crack nas favelas

E por que não querem largar o vício? Porque a droga é boa: traz felicidade, prazer, sensação de bem-estar. Mas não é só isso, ela ainda preenche um espaço interno, faz o tempo passar, ocupa a cabeça, dá uma motivação diária, e, por fim, cria uma dependência, uma razão de ser, que é o que muita gente procura.

Antes de julgá-los, pense: quem, hipoteticamente falando, seria capaz de recusar um produto que desse todas as sensações boas do mundo e que não tivesse qualquer efeito colateral? Que não causasse câncer, fosse legal, de graça, infinito na natureza? Você diria "não" a algo que é totalmente inócuo para a sua saúde e  que lhe traria uma felicidade incontrolável, a hora que você quiser, da maneira que você quisesse?

A verdade é que esse produto não existe nem nunca existirá, na minha forma de ver as coisas. Quando se mexe com a nossa felicidade, por exemplo, estamos mexendo com o nosso corpo, que vai se adaptar a esse novo patamar, e desacostumar com o anterior. Quando tivermos contato apenas com o nível anterior, ou quando nos acostumarmos com o nível atual, aparecerá novamente o sentimento de que algo está faltando. É o vazio, outra vez.

Sempre haverá sequelas, resultados não planejados ao se tomar a "pílula da felicidade" [sem referência a qualquer droga específica], portanto. E, ao saber as suas consequências dessas substâncias, é possível fazer uma opção. Sim ou não?

Mas não é só o fato de saber das consequências que interfere no uso de drogas tão destrutivas como o crack. Se fosse tão simples, bastaria colocar um carro com alto-falante rodando as cracolândias avisando dos perigos da droga. É preciso dar uma opção de se escolher, uma possibilidade concreta, algo que seja perfeitamente capaz de substituir a droga nessa necessidade de preencher esse espaço que há dentro de cada um e que a grande maioria das pessoas não sabe bem como tratar. E isso, claro, não é instantâneo. Nem é fácil. Nem, na verdade, existe totalmente.

[Continua.]

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