quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ouvir os outros

Enquanto estivermos em sociedade, devemos ouvir os outros. Quando for possível viver longe, não mais será preciso. Por motivos óbvios.

Isso pode parecer complicado. Além de ser o pior regime [com a exceção dos outros], a democracia - e o ato de ouvir os outros nada mais é que colocar em prática, cotidiana, a democracia no seu sentido mais simples - é também uma chatice. É lenta. É dar chance, espaço e oportunidade para até quem não presta. Quem não tem nada a dizer. Quem é mau-caráter. Quem só quer atrapalhar. Quem é culpado.

Porque, sob nenhum viés concreto, não há nenhuma forma de nos diferenciarmos por completo. Então quer dizer que nós, os cultos, letrados, estudados, que pagamos impostos, cidadãos-de-bem, nunca fizemos mal a ninguém, que gostamos dos pais acima de tudo, queremos ter filhos, somos iguais a eles, vagabundos, imbecis, idiotas, que não fizeram nem a quarta-série, trambiqueiros, sonegadores, alcoólatras e que ainda roubam o pirulito das crianças pequenas? O que nos torna corretos, e eles, errados? Se eu seguir essa sucessão de exemplos, estarei automaticamente no lugar certo? Vou ao paraíso? Serei um dos escolhidos?

Qualquer autovangloriação não vale. E não estou falando de contar seu cotidiano, que tem altos, mas também baixos, ao seu amigo. A propaganda sobre si mesmo é sempre tendenciosa. Nem preciso dizer contaminada, porque toda a opinião já o é. Mas que não é possível a autodenominação. Qualquer posição deve ser, não imposta, mas conquistada.

De toda forma, o posto não te torna essencialmente diferente dos demais seres humanos. Desmerecer a opinião do outro - sem nem ouvi-la - é se colocar num pedestal de superioridade. É defender sua vaga, atacando o outro, com medo da extinção. É um procedimento aceitável, mas covarde.

[É melhor deixar escrito para poder conferir no futuro.]

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