quarta-feira, 6 de março de 2013

¿Por qué no te callás?

Ainda bem que temos humor na internet - onde iríamos parar
sem isso? [Foto roubada do FB de Claudia Croitor]
Fiquei assombrado - a palavra é assombrado - com as reações à morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. Todas eram de grande alívio, travestido de revolta, ou de um pesar imenso, como se um líder de nossos tempos tivesse morrido. Todas eram excessivamente emotivas, fossem raivosas ou tristes. Um amigo posta que um câncer levou o outro. Outro mostra uma imagem em que o presidente entra num livro cuja capa está escrito "História". Nada razoável, nada comedido, nada centrado. As piadas, tão comuns nesses casos de mortes entre os humoristas de plantão das redes sociais, se resumiram a uma ou outra referência à série "Cháves", do Roberto Bolaños - portanto, o ator, não o escritor.
Sentiam o mesmo que, em outras plagas, sentem em relação a Evo Morales, a Lula. Um sentimento que está quase aquém, ou além da ideologia, da política -quando entendidas, tais expressões, no seu sentido apenas usual, pedestre. Asco, nojo, porque um sentimento que nasce da rejeição étnica, antes de tudo. Uma questão de pele.
Comenta Bob Fernandes, que diz tê-lo entrevistado várias vezes, sobre os inimigos de Chávez, em comparação com outros líderes, em um texto exatamente sobre esses extremos de emoções..

Para mim foi curioso - e assustador. Principalmente porque eu não tenho qualquer opinião sobre a Venezuela mais concreta. Nenhuma informação mais profunda, que fuja do fla x flu. Conheci, uma vez, um casal venezuelano. Ela, jornalista, ele, engenheiro, mas que queria fazer cinema. Ela, ferrenhamente contra Chávez. Ele, apaixonadamente a favor do líder da revolução bolivariana. Ela, reclamando do aumento de preços, do sumiço de produtos básicos, da extrema violência de Caracas [o Rio parece um lugar paradisíaco se compararmos os relatos]; ele falando sobre a distribuição de renda, a preocupação com as classes mais pobres, com a aceitação popular ao governo, o movimento nacionalista. Ela, representando a classe média. Ele, a mais baixa. Não me surpreendeu quando soube - por uma dessas coincidências incríveis: ela estudou com amigos na Espanha! - que não são mais um casal. Representavam esse desnível de comunicação, os polos extremistas.

Tentei ver ontem sites de jornais venezuelanos. "El Universal" saiu do ar [parece que não fui o único]. "El Nacional" se posicionou entre os revoltados. Não me pareceram, assim, bastante isentos de emoções fortes também. Também pudera. Uma das grandes acusações que chega para nós, aqui do outro lado da América do Sul, é exatamente a luta contra a imprensa. O curioso é que conseguimos ver essa imprensa ainda aqui.

Comentei isso ontem, em voz alta, e recebi de volta que Chávez era um homem a que não se podia ficar indiferente. Fiquei me sentindo um estranho no ninho.

Claro que esse debate público durou até a chuva cair no Rio. Aí, novamente voltamos nossas energias e emoções a outra efeméride. E hoje, com a morte de outro ícone de nossos tempos, vamos ter assunto para mais um dia. E assim vamos em frente.

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