domingo, 14 de abril de 2013

Exilados

A linguagem do oásis é diferente da linguagem do deserto. A prática de viver em oásis permitiu aos três brincar com a linguagem e uma forma que seria impossível sem esta distância. A biografia dos três ajudou nesse sentido. Pessoa viveu na África do Sul entre os 7 e os 17 anos e quando voltou a Lisboa falava inglês melhor do que português. Muitos dos seus poemas foram escritos em inglês. Borges tinha uma avó inglesa que morava com a família, e cresceu falando espanhol e inglês. Dos 15 aos 22 anos Borges morou em Genebra, onde falava francês e inglês, além do espanhol. O'Obrien só falou irlandês até os 10 anos, e escrevia em irlandês e inglês. Uma língua vista de fora ou de longe revela todas as idiossincrasias e possibilidades que os que a falaram sempre nem sempre veem. O russo Nabokov escrevendo em inglês é um exemplo dos prodígios possíveis com uma língua recém-apreendida, e tem um predecessor igualmente admirável no polonês Joseph Conrad. Borges dizia que sua grande vontade literária era ter escrito toda a 11.ª edição da Enciclopédia Britânica. Em inglês, claro.
Verissimo citando outros autores que, como ele, passou um bom tempo fora do seu país quando muito novo. Reforça duas teses de Borges: que a geografia é mais uma ficção. E que gostar é reconhecer-se.

Nenhum comentário: