segunda-feira, 6 de maio de 2013

O fim do furo como fim

Foto de Marcos Estrella, da TV Globo, no meio do temporal
Durante muito tempo, os jornais [e aí eu incluo todos os veículos de mídia] se diferenciavam pelo furo, ou seja, pela história que só eles tinham e que ninguém mais sabia. Era uma época em que: 1/ havia diversos jornais; 2/ As publicações eram diárias, não instantâneas como agora.

Não que a instituição do furo tenha se tornado irrelevante, não mesmo. É sempre bom sair do marasmo do jornalismo de release, principalmente quando isso acontece por meio dos recursos antigos, como fontes, investigação, etc. Mas é que esse recurso já não repercute como acontecia. O jornalismo não é mais feito de furos.

Primeiro porque há tantas formas de se informar que o leitor não sabe mais de onde partiu a informação original, no dia-a-dia [se é que um dia ele soube, porque, para saber, ele deveria ler mais de um jornal por dia, o que, suspeito, era incomum]. E porque esse leitor pode ser também um produtor de conteúdo, em um veículo de mídia não tradicional, como, por exemplo, as redes sociais.

É sempre citado o caso da morte de Whitney Houston, cuja informação foi dada primeiro pelos funcionários do hotel onde ela estava hospedada via Twitter [se eu não me engano], depois pelas empresas de mídia tradicionais.

Se a questão for o furo pelo furo, o jornalismo - sério, correto - sempre vai perder. Porque, em vez de publicar uma suposição, ele vai apurar primeiro, com outras fontes, principalmente se for um caso de vida ou morte. E isso leva tempo. E quem não tem essa preocupação, como qualquer leitor comum, vai divulgar a informação ainda no seu formato "boato". Não há como competir nesse caso.

E aí que uma nova-antiga função do jornalismo aparece: credibilidade. Exemplo: Chove nas ruas do Rio. Você pode recorrer às redes sociais para saber o que os seus amigos estão enfrentando, quais lugares você deve evitar, onde está uma banheira, etc. Mas para ter uma noção mais total e confiável, você recorre aos meios mais tradicionais.

O "Guardian", esse jornal que é, provavelmente, a atual vanguarda dos meios de comunicação desse lado do mundo, tem uma outra sugestão: o jornalismo vai se especializar em dados. Como todo mundo produz informação, esse volume vai se agigantar cada vez mais, e o jornalista vai ser aquele que vai peneirar tudo isso, vai descobrir a notícia dentro do turbilhão que nos povoa. Ao chover na rua, além de correr para as ruas, ele corre para a internet, para pesquisar sobre onde as pessoas mais reclamam de poças e alagamentos. E apura com autoridades, manda gente para o lugar, vê em câmeras da prefeitura, descobre se a informação condiz com a sua interpretação ou não.

Eu gosto do jornalismo de outro jeito: é o algo a mais. Além de noticiar que está chovendo - já que isso qualquer um pode fazer - é saber por que tais e tais lugares ainda alagam, desde quando isso acontece e o que as autoridades estão fazendo para resolver o problema numa próxima chuva. É sair do que se chama "factual", do fato em si, para tentar entender o problema, e sugerir soluções para ele.

Porque não é possível ter furos em relação à chuva.

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