quarta-feira, 1 de maio de 2013

O paradoxo Beltrame

Mariano mateando a sua erva.
Pode-se dizer, sem muito medo de errar, que o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, é uma unanimidade, ou o mais próximo disso, para não chegar à burrice ligada à cegueira identificada por Nelson Rodrigues. Seu nome é associado com o processo de implantação das UPPs em comunidades ligadas ao crime organizado e a um sentimento de segurança que aumentou, ao menos, na Zona Sul carioca.

Mas, apesar de ser um policial de carreira, ele diz que o processo não acaba com essa renovação da política de postos policiais dentro das comunidades [que não nasceu nessa geração]. E ele também não se engana que o tráfico vá acabar. Nem que a violência vá sumir num estalar de dedos. Ele acredita que a entrada da polícia nessas localidades, antes completamente esquecidas, é o primeiro movimento para se começar a se lembrar delas novamente. O seu projeto não é perfeito, mas se ele é o primeiro a dizer que o caso tem defeitos, portanto quem poderá falar mais mal?

Por todas essas suas qualidades, ele se tornou um ótimo nome para compor qualquer chapa nas próximas eleições. Quem não quer ter ao seu lado um homem reconhecido, ligado a ações populares, para disputar para, por exemplo, governador? Mas, aumentando ainda as suas qualidades, ele sempre disse que não queria participar da vida política.

Virou, tal qual a menina que disse não, uma tentação ainda maior. O fato de não querer ser político o torna o melhor político entre todos. Não querer se candidatar, o coloca como praticamente imbatível. Um nome que não quer se envolver com a escumalha. Mas que é aclamado. Merval Pereira veio agora dizer que ele exigiu como condição para assumir o posto de vice assumir sob a sua responsabilidade as pastas de saúde, educação e assistência social. Ou seja, a parte social da coisa. Ou seja [2], despolitizar a área mais importante do governo. Acabar com os apadrinhamentos, com os conchavos, com os troca-troca. Ou seja [3], colocou um preço altíssimo para o seu cacife. Eu, se fosse o PMDB, pagava na hora.

Mas essa exigência também colocou a política e os partidos, sobretudo os do Rio, numa posição vergonhosa, me desculpem. Um policial gaúcho teve que chegar para tentar organizar a bagunça que estava aqui. E, para organizar, ele quer exatamente modificar esse antigo jogo em que o mais importante é vencer a eleição e se manter no poder, e o que menos importa é a população. Alguém falou de inversão de valores?

[Essa entrevista dele com a Ruth de Aquino de 2011 é muito boa.]

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