sábado, 14 de setembro de 2013

E se Nietzsche fosse brasileiro?

Quando eu fazia a pós em arte e filosofia, um professor disse que ele conseguia enxergar a atitude dionisíaca que Nietzsche sugeria no "Nascimento da tragédia" apenas no transe do candomblé e outras religiões de descendência africana. Desde então, fiquei pensando: e se Nietzsche fosse brasileiro? Ou, ao menos, e se ele conhecesse o Brasil?

Acho que Nietzsche torceria pela seleção
A proposta não é tão aleatória como parece [por que Brasil?] nem ufanista [E daí, o Brasil?] como parece. Além disso, Nietzsche só é o que foi porque ele seguiu o caminho que seguiu. Mas podemos brincar de especular, que não faz mal a ninguém.

Para início de conversa, temos que lembrar que sua irmã veio para o Paraguai, junto com o marido, na tentativa de fundar uma colônia anti-judeus. Ou seja, a América do Sul não era um terreno tão exótico assim para a família de Fritz. Mas, na prática, há uma série de sugestões, coincidências e polêmicas temáticas que poderiam surpreender Nietzsche. A começar pela questão dionisíaca, mesmo.

E não precisamos ir a um terreiro para entender isso, basta pensarmos num carnaval, ou, na época, o protocarnaval. Ou mesmo em qualquer festa, fora dos limites da nobreza, e como nós sabemos bem o que é dionisíaco.

Falando em nobreza, a nossa elite seria um tema de interesse grande para o famoso bigodudo. Ele que defendeu conservadoramente uma escravidão nos moldes [idealizado por ele] dos gregos, para que os aristocratas pudessem criar, ficaria chocado e provavelmente decepcionado com a nossa camada superior da sociedade que, durante anos manteve oficialmente uma parcela enorme da população em condições desumanas, não criou nenhuma "Odisseia" ou formou um Heráclito.

Aliás, Nietzsche que falou sobre a "besta loura", em tom de superioridade, e que dizia que algumas raças são naturalmente mais importantes que outras [repetindo um discurso que, infelizmente, era comum à época, e que agradou tanto a um outro bigode, no século seguinte], ficaria desconcertado ao perceber que a grande maioria dos nossos comportamentos que identificariam o seu ideal dionisíaco estaria relacionado exatamente com a nossa herança africana.

Para citar outro exemplo, e ficamos em um dos seus temas mais caros, lembremos a moral. Somos - nós, brasileiros - pudicos, mas também devassos. Somos, ao mesmo tempo, moralistas, imorais e amorais. Vivemos sob a égide de tradições fortíssimas e, em alguns casos, conflitantes. Acredito que essa nossa relação com as "leis" não escritas do tempo embananaria a cabeça do homem que morreu com a cabeça embananada.

Ou talvez, não. Nada disso importasse para Nietzsche, que tinha uma relação de amor-e-ódio com a sua Alemanha, que estava no processo de se transformar em Alemanha, e não conseguia enxergar nada além de seu país. Vá saber.

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